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GEROLAMO INDUNO

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GEROLAMO INDUNO - O cumprimento - Óleo sobre tela - 85,3 x 126,5 - 1877

GEROLAMO INDUNO - A lição do baile - Óleo sobre tela - 107 x 135,5

A Itália sempre foi um berço nato de grandes artistas, em diversas épocas da história. Há quem diga que o ápice artístico italiano se deu no Renascimento, e isso tem lá suas verdades. Mas, a grandiosidade da pintura e escultura italianas não se resumiu somente a esse período. Os anos de 1800, que eles carinhosamente chamam de Ottocento, reservaram aos artistas italianos um período muito prolífico, de uma arte voltada para as coisas “de casa”, uma maneira de dizer que voltaram os olhos para uma arte mais intimista e nacionalista. Essa fase tornou-se também mais um grande período da arte italiana.

GEROLAMO INDUNO - Donne romane, scena conteporanea- Óleo sobre tela - 76 x 101 - 1864

GEROLAMO INDUNO - Criança amada - Óleo sobre tela - 54,4 x 74 - 1871

Nesse período, é imprescindível falar dos artistas que desenvolveram uma arte acadêmica que é respeitada até hoje. Com vertentes que voltaram o olhar para o Realismo e o Naturalismo, os trabalhos desse período nos revelam artistas donos de um domínio técnico admirado e com uma criatividade de composição invejáveis para qualquer época. Gerolamo Induno, entre muitos outros pintores italianos dessa época, é daqueles artistas que a história precisa relembrar e cujas obras necessitam tornar referência para os tempos atuais.

GEROLAMO INDUNO - A partida dos voluntários de 1966 (estudo)
Óleo sobre tela - Entre 1877 e 1878

GEROLAMO INDUNO - A partida dos voluntários - Óleo sobre tela

Gerolamo Induno nasceu em Milão, a 13 de dezembro de 1825, filho mais novo de Marcos e Julia Somaschi. A arte o acompanhou desde cedo, até porque o seu irmão, Domenico Induno, dez anos mais velho que ele, começou prematuramente nas artes e tornou-se uma referência natural sua. Ambos estudaram na Academia Brera, sob os ensinamentos de Luigi Sabatelli. Gerolamo ficaria naquela instituição entre 1839 e 1846. Conseguiu prêmios significativos enquanto cursava e já em 1845, participa pela primeira vez nas exposições anuais de Brera.

GEROLAMO INDUNO - Batalha de Cernaja - Óleo sobre tela - 1857

GEROLAMO INDUNO - A Batalha de Magenta - Óleo sobre tela

Os irmãos Induno não nasceram num momento muito propício do ponto de vista político e social da Itália. Uma série de acontecimentos, envolvendo conflitos e guerras, levariam os dois a participações obrigatórias em campos de batalha. Em 1848, começam esses conflitos em suas vidas, tendo sido forçados ao exílio em Ticino. Voluntários dos movimentos que aconteciam em sua região, em 1849 se viram mais uma vez forçados na defesa da República Romana contra o exército francês.

GEROLAMO INDUNO - O retorno do campo de batalha
Óleo sobre tela - 96 x 78,3 - 1869

GEROLAMO INDUNO - O retorno do campo de batalha, detalhe

A guerra também fez parte da vida artística de Gerolamo, que a ilustrou; tanto em campos de batalha, com incursões ao vivo; como em ateliê, quando abordava os estudos de campo de uma maneira mais elaborada. Até o início da década de 1850, grande parte da produção de Gerolamo estava diretamente ligada a esses movimentos. Ilustrador, e considerado como uma espécie de repórter de sua época, foi um dos mais destacados artistas de guerra italianos, responsável por aquilo que ficou caracterizado como artistas do Risorgimento.

GEROLAMO INDUNO - O garibaldino- Óleo sobre tela - 1871

GEROLAMO INDUNO - Garibaldi sulle alture di Sant’Angelo presso Capua
Óleo sobre tela - 64,5 x 52

Por causa de ferimentos de guerra, sofridos em conflitos em Roma, Gerolamo teve um período de descanso nos anos de 1850. Refugiou no ateliê do irmão, retornando a Milão, com a ajuda do Conde Giulio Litta, que além de um aristocrata de ideias liberais fervorosas, era também um colecionador de arte apaixonado. Ele já era cliente de Domenico e tornava agora uma espécie de mecenas e incentivador da arte de Gerolamo.

 
Esquerda: GEROLAMO INDUNO - A pintora - Óleo sobre tela - 52,5 x 42 - 1873
Direita: GEROLAMO INDUNO - A pintora - Óleo sobre tela - 51 x 43,3

Foi graças a essa reclusão obrigatória, que Gerolamo teve mais tempo para se dedicar àquilo que tornaria o carro-chefe de sua produção: as cenas de gênero. Em trabalhos que prezaram sempre pela vida comum e suas lidas diárias, bem como as rotinas dos campos de batalha, sua carreira ia se solidificando, e a conquista de novos clientes começava como algo natural e promissor. É importante destacar, que o gosto por este tema de pintura era uma influência direta de seu irmão.

GEROLAMO INDUNO - O pintor de imagens - Óleo sobre tela - 47 x 36

GEROLAMO INDUNO - O tocador de bandolim - Óleo sobre tela

Mas, nem tudo era calmaria na vida de Gerolamo. Novos rumos da vida política de sua região o levaram mais uma vez a participações em guerras e conflitos, tendo servido a Guerra da Criméia entre 1854 e 1855. Em 1859, alistou-se nos Caçadores dos Alpes. Se por um lado essas interferências lhe tiravam da vida comum, por outro, traziam uma experiência diferenciada, pois a rotina da guerra o deixava ainda mais em contato com a arte própria desse tipo de conflito. Principalmente entre os anos de 1860 e 1863, os trabalhos de Gerolamo foram quase que todos absorvidos pela arte de guerra. Graças a ele, muito do que se registrou naquele período chegou a nossos tempos como uma espécie de noticiário dos acontecimentos. E isso o deixava ainda mais respeitado e requisitado por diversos colecionadores e instituições.

GEROLAMO INDUNO - Quando o trem vem - Óleo sobre linho - 109,5 x 93 - 1871

GEROLAMO INDUNO - Quando o trem vem, detalhe

A vida de Gerolamo encaminhava assim: os comissionamentos de temas ligados à guerra consumiam a maior parte de seu tempo, comissionamentos de obras públicas também começavam a aparecer com mais frequência e os trabalhos paralelos com cenas de gênero nunca eram deixados de lado. Trabalhava intensamente, como tudo sempre foi muito intenso em sua vida. O respeito e a admiração pela sua produção já não era restrito a pequenos grupos. Seus trabalhos eram disputados por colecionadores e esperados em muitas mostras e exposições.

GEROLAMO INDUNO - Menina depois de um ataque de bombas - Óleo sobre tela

GEROLAMO INDUNO - Sentinela
Óleo sobre cartão - 40 x 28

Continuou por sua toda a sua vida a produzir aquilo que lhe inspirava e lhe fazia feliz. Manteve sempre a técnica brilhante, com uma facilidade pictórica que impressionava a todos. Até o fim de seus dias, esmerava em suas obras com a mesma disposição de um iniciante, e se prestava aos detalhes de suas composições com o mesmo entusiasmo de quando aprendia com seu mestre. Continuou sempre fiel aos seus princípios e àquilo que o mantinha no mundo da arte. Muito mais que um artista competente, era um cidadão que abraçava as causas nacionalistas e as defendia como quem defende a vida. Depois de uma longa doença, Gerolamo faleceu a 19 de dezembro de 1890, na mesma cidade que nascera.

GEROLAMO INDUNO - Soldados na Stevio Pass- Óleo sobre tela - 44,5 x 59,5

GEROLAMO INDUNO - Infantaria na Crimeia - Óleo sobre tela - 37,7 x 48


Hoje, Gerolamo Induno é preciso ser lembrado e respeitado como um artista de referência. Viveu numa época onde a fotografia ainda engatinhava e o artista se ocupava em registrar as coisas de seu mundo. Ele fez isso como poucos. Muito do que se sabe e viu dos movimentos libertários da Itália do século XIX, deve ao trabalho incansável de artistas como ele.



JAMES McINTOSH PATRICK

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JAMES McINTOSH PATRICK - Ayrshire - Óleo sobre tela - 63,5 x 76

JAMES McINTOSH PATRICK - Fazenda Balshando- Óleo sobre tela

A paisagem, como um tema de pintura propriamente dito, se solidificou no continente europeu, principalmente nos países nórdicos. Foi durante o período Barroco que a paisagem se estabeleceu definitivamente como um gênero artístico. Dois fatores contribuíram muito para isso: a ascensão dos Países Baixos e a Reforma Protestante. Os principais clientes dos artistas, até aquele momento, eram a nobreza e o clero.

JAMES McINTOSH PATRICK - Estrada numa paisagem de primavera
Óleo sobre tela - 63,5 x 76

JAMES McINTOSH PATRICK - Colheita - Óleo sobre tela

Depois da Reforma Protestante, os mecenas foram se tornando a emergente burguesia comerciante. Como esses não se interessavam tanto assim por temas complexos da história e menos ainda pelas cenas religiosas, a “paisagem” foi caindo no gosto dos novos colecionadores, que a preferiam por se tratar de um gênero decorativo e que se identificava com suas realidades de vida. Juntamente com as “cenas de gênero”, as “paisagens” ganharam a independência de gênero, que tanto mereciam.

JAMES McINTOSH PATRICK - Estrada knapp - Óleo sobre tela

JAMES McINTOSH PATRICK - Hot Non, Easdale, perto de Oban - Óleo sobre tela -63,5 x 76

Embora tenha teoricamente originado como gênero no continente europeu, as paisagens também conquistaram vários artistas adeptos em terras britânicas. Primeiro, pelo cenário único do arquipélago, segundo, também pela influência da Reforma Protestante, que incentivava esse tema de pintura. Nomes consagrados da arte britânica, como John Constable e William Turner, elevaram a paisagem a patamares ainda não alcançados. Suas importâncias foram tão grandes, que viriam a influenciar movimentos expressivos no futuro, como o Impressionismo.

JAMES MCINTOSH PATRICK - Estrada para Mains, Benvie - Óleo sobre tela - 76 x 101

JAMES MCINTOSH PATRICK - Country Lane, Perthshire- Óleo sobre tela

Seguindo a tradição dos grandes pintores britânicos de paisagens, James McIntosh Patrick se consagrou como um dos maiores pintores escoceses do século XX. Ele nasceu em Dundee, em fevereiro de 1907. A família tinha uma veia artística, pois seu pai e seu irmão mais velho eram arquitetos. James matriculou-se na Escola de Arte de Glasgow em 1924, e ali ficaria até 1928. Solidificou seu aprendizado, principalmente sob os ensinamentos de Maurice Greiffenhagen. Já no ano de 1927, mesmo enquanto estudava, ele vendia gravuras em Londres e chegou mesmo a ter obras expostas na Real Academia.

JAMES MCINTOSH PATRICK - O ateliê do artista - Óleo sobre tela - 1984

JAMES MCINTOSH PATRICK - Quarry farm - Óleo sobre tela - 46 x 61 - 1950

A produção de gravuras se tornou quase que uma fonte de renda exclusiva para James, durante toda a década de 1920. Mas, ao final da década, com a forte depressão econômica que assolara as grandes economias do mundo, o interesse pela gravura foi diminuindo por parte dos colecionadores, e ele se viu forçado a procurar estilos e temas alternativos para sobreviver na arte. Foi quando se dedicou a aquarelas e ao óleo, principalmente os retratos.

JAMES MCINTOSH PATRICK - Borda da praia, Balmerino- Aquarela sobre papel

JAMES MCINTOSH PATRICK - Sol de dezembro - Óleo sobre tela

Ele conseguiu respeito por seus trabalhos logo de início, e na década de 1930 já havia muitos trabalhos seus, adquiridos por coleções públicas e particulares, de grande importância. Inicialmente requisitado pela produção de retratos e naturezas mortas, foi com a paisagem, que seu sucesso iria se solidificar. Ele possuía uma maneira particular para produzi-las e isso agradou e muito, aos novos colecionadores. Geralmente bem detalhadas, elas sempre tenderam ao estio tradicional, mas com uma pitada de inovação, típicas de influências impressionistas, principalmente no que se refere à liberdade das cores e menos rigor no desenho.

JAMES MCINTOSH PATRICK - Primavera em Perthshire - Óleo sobre tela - 71 x 91,5

JAMES MCINTOSH PATRICK - Fazendas em Carse - Óleo sobre tela

Propositadamente, ele distorcia alguns efeitos da perspectiva e ajustava rios, estradas e montanhas, para que esses captassem e aprisionassem ainda mais os espectadores em suas obras. Mesmo já com uma boa projeção internacional, no início de carreira, James nunca perdeu contato com suas raízes e imortalizou as paisagens de sua região natal, por toda sua vida.

JAMES MCINTOSH PATRICK - Primavera- Óleo sobre tela

JAMES MCINTOSH PATRICK - Galinhas numa fazenda
Óleo sobre tela - 61 x 49

Em 1940, foi convocado para o serviço militar. Assim que retornou da guerra, ele se refugiou na Escócia e passou a produzir especialmente com temas de seu país. Teve mais tempo para se dedicar à Academia Real Escocesa, da qual se tornou um acadêmico completo em 1957. O próprio jornal The Independent o citou como “o decano dos pintores de paisagens escocesas”. As paisagens de Dundee e Angus ficaram imortalizadas em grande parte de sua produção.

JAMES MCINTOSH PATRICK - Ponte -Óleo sobre tela

JAMES MCINTOSH PATRICK - Moinho Downie - Óleo sobre tela - 71 x 91 - 1962


James McIntosh Patrick faleceu em abril de 1998, aos 91 anos de idade. Seus trabalhos se encontram em coleções importantes de respeitadas galerias e ainda são disputados nos mais importantes leilões das casas mais tradicionais de negócios de arte do mundo. Honrou, por toda sua vida, a tradição britânica de produzir bons e respeitados paisagistas.


LEV LAGORIO

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LEV LAGORIO - Praia, Criméia - Óleo sobre tela - 62,6 x 97,5 - 1889

LEV LAGORIO - Atravessando o rio - Óleo sobre tela - 61 x 97,5 - 1879

A escola russa de paisagem deu ao mundo alguns dos melhores artistas nessa temática. É injusto citar um ou outro, pois muitos deles formam um time de extrema qualidade. Com influência marcante das escolas europeias mais atuantes naqueles tempos, os paisagistas russos elevaram esse gênero de pintura a um patamar muito respeitado até hoje. Lev Feliksovich Lagorio foi um destacado paisagista russo, famoso pelas suas marinhas e também pelas muitas cenas que fez em terras europeias.

LEV LAGORIO - Arredores de Nápoles, com vista para o Vesúvio
Óleo sobre tela - 68 x 106 - 1860

LEV LAGORIO - Paisagem do sul - Óleo sobre tela - 63 x 85 - 1866

LEV LAGORIO - Atravessando um rio no Cáucaso- Óleo sobre tela - 72,5 x 104,5

Lev Lagorio, como ficou mais conhecido, nasceu em Feodosia, a 9 de dezembro de 1826, filho de um comerciante e pedreiro, cujos ancestrais vieram de uma aristocrática família genovesa. Ele se formou inicialmente ali mesmo, em Feodosia, e ali também passou uma temporada no estúdio de um respeitado artista da época, Ivan Aivazovsky.

LEV LAGORIO - Vista de Capo de Monte, Sorrento
Óleo sobre tela - 76 x 63 - 1860

LEV LAGORIO - Meio-dia italiano - Óleo sobre tela - 76 x 63 - 1856

Em 1842, com o apoio do governador Tavria Al Kaznacheeva, Lagorio entrou para a Academia Imperial de Artes, onde estudou sob os cuidados de Sauerweid, Vorobiev e Villevalde. No verão de 1845, Lagorio partiu a bordo de um navio a vapor, pelas costas da Finlândia. Entre muitos estudos e apontamentos, produziu trabalhos que lhe concederam importantes prêmios nos próximos anos: uma pequena medalha de prata em 1847, uma grande medalha de prata em 1848 e uma medalha de ouro em 1850.

LEV LAGORIO - Costa do Mar Negro - Óleo sobre tela - 41 x 72 - 1872

LEV LAGORIO - Vista de montanha na Itália - Óleo sobre tela - 100 x 145 - Cerca de 1850

LEV LAGORIO - Paisagem do norte - Óleo sobre tela - 64 x 104 - 1872

Financiado por verbas públicas, ele passou uma temporada no Cáucaso, em 1851. E, após se formar pela Academia Russa, conseguiu um pensionato por 8 anos na Europa. Os ares por lá foram muito bons para ele. Solidificaram ainda mais a influência europeia em suas obras, principalmente no período que passou na Itália. Sob uma iluminação diferenciada, sua paleta se tornou naturalmente mais brilhante. Mesmo com o término da pensão que bancava suas viagens, ele conseguiu permissão para ficar por lá mais dois anos, sob suas próprias custas.

LEV LAGORIO - Falésias costeiras em Capri - Óleo sobre tela - 67 x 79 - 1859

LEV LAGORIO - Pátio italiano - Óleo sobre tela - 33 x 46 - 1869

LEV LAGORIO - Casa de pescadores na Ilha de Capri - Óleo sobre tela - 64 x 77 - 1859

Os anos da década de 1860 trariam boas surpresas a Lagorio. Merecidamente, recebeu o título de professor de pintura, em 1860. No ano de 1861, após uma série de trabalhos realizados para Alexandre II, foi condecorado com a Ordem de St Anne 3º grau. De volta ao Cáucaso nesse mesmo ano, foi novamente condecorado pelo Grão-Duque Mikhail Nikolayevich. Em 1864, ele finalmente se estabeleceu em São Petersburgo, de onde saía para passar os verões em Sudak.

LEV LAGORIO - Nas montanhas do Cáucaso- Óleo sobre tela - 1870

LEV LAGORIO - Pescadores no rio, ao por do sol- Óleo sobre tela - 60 x 107 - 1886


Respeitado principalmente no meio acadêmico, Lagorio recebeu uma grande encomenda em 1885. Uma série de pinturas com o enredo da Guerra Russo-Turca. Para sua empreitada, visitava campos de batalha e se preocupava com a veracidade de suas composições. Em 1900, ele se tornou membro honorário da Academia de Artes. Cinco anos mais tarde, Lagorio faleceria na cidade de São Petersburgo, no dia 17 de novembro. O artista deixava uma contribuição significativa à pintura de paisagem russa, ainda mantendo uma linguagem acadêmica, mesmo que esta vinha sofrendo forte influência dos movimentos modernistas que acenavam um novo futuro.


FREDERICK JUDD WAUGH

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FREDERICK JUDD WAUGH - Marinha - Óleo sobre tela - 25 x 30 pol

FREDERICK JUDD WAUGH - Cena costeira - Óleo sobre tela - 36,8 x 47 - 1906

Frederick Judd Waugh começou na vida artística da maneira mais desejada por todo artista iniciante: tendo aulas com outros respeitados artistas. Ele estudou inicialmente na Academia de Belas Artes da Pensilvânia com Thomas Eakins e Jerome Ferris, e posteriormente estudou com William Bouguereau e Robert Fleury, na Académie Julian, em Paris. Um aprendizado eficiente conduz invariavelmente para uma carreira notável. O que realmente aconteceu com ele.

FREDERICK JUDD WAUGH - Família descansando sob uma árvore
Óleo sobre tela - 46,3 x 55,2 - 1889

FREDERICK JUDD WAUGH - Por de sol - Óleo sobre tela - 62,2 x 127

Frederick Judd Waugh nasceu em Bordentown, New Jersey, a 13 de setembro de 1861. Ele era filho do retratista Samuel Waugh e da pintora de miniaturas Mary Elizabeth Young Waugh. O ambiente familiar conspirou para que ele logo se interessasse pelas artes. Curioso, desde cedo se interessava por assuntos diversos, desde plantas e animais a construções navais, tanto que essa última lhe acompanhou também como profissão.

                                
Esquerda: FREDERICK JUDD WAUGH - Moça num jardim - Óleo sobre tela - 36,5 x 24 - 1882
Direita: FREDERICK JUDD WAUGH - Paisagem pastoral - Óleo sobre tela - 35,75 x 24 pol - 1883
Abaixo: FREDERICK JUDD WAUGH - Jogadoras de xadrez - Óleo sobre tela - 1891


Durante a Primeira Guerra Mundial, ele realizou projetos para a Marinha dos Estados Unidos, sob a direção de Everett L. Warner. Embora dividisse a carreira artística com uma outra profissão, mesmo que por breves períodos, ele se deu muito bem nas duas. Até pelo envolvimento com a profissão de projetista naval, acabou se empenhando muito mais em pintar marinhas, principalmente nos últimos anos de sua vida. A atração pelo mar nasceu logo na primeira travessia que fez sobre o Atlântico, quando viajou para a Europa.

FREDERICK JUDD WAUGH - Costa do Maine - Óleo sobre painel - 60,9 x 91,9

FREDERICK JUDD WAUGH - Noite em Pearl- Óleo sobre tela - 78,7 x 106,6 - 1906

Mesmo que tivesse interesse em outras temáticas, Waugh acabou estabelecendo sua reputação como pintor de marinhas. São famosos os seus trabalhos com cenas litorâneas da Nova Inglaterra, especialmente aqueles com arrebentações e extensas praias. Acredita-se que tenha pintado mais de 2500 marinhas, em toda sua carreira.

FREDERICK JUDD WAUGH - Tarde de sol - Óleo sobre tela - 24 x 36 pol - Cerca de 1930

FREDERICK JUDD WAUGH - Uma brisa suave - Óleo sobre tela - 76,2 x 101,6

A carreira de ilustrador também fez parte de sua vida profissional. Fazia participações em revistas e publicações, o que de uma certa forma acabou despertando o interesse por estilos e temas não tão tradicionais para sua época, como o Simbolismo. Antes de adquirir reputação e reconhecimento nos Estados Unidos, Waugh fez várias participações no Salão de Paris. Ser selecionado para expor em Paris era como a admissão para um seleto mundo de artistas consagrados.

FREDERICK JUDD WAUGH - Menina pastora - Óleo sobre tela - 61 x 91,4 - 1885

FREDERICK JUDD WAUGH - Run row - Óleo sobre tela - 81,2 x 73,6 - 1922

Em 1908, Waugh retornou para os Estados e se estabeleceu em Montclair Heights, em Nova Jersey. Ele não tinha um estúdio próprio assim que chegou, mas conseguiu um espaço com o colecionador William T. Evans, que lhe cobrava uma nova obra a cada ano, como pagamento da hospedagem. O artista foi amadurecendo sua técnica e usava regularmente a espátula, para conseguir efeitos mais volumosos em sua pintura. A marinha tornou-se tema marcante à partir dali.

FREDERICK JUDD WAUGH - Simpatia - Óleo sobre tela - 114,3 x 147,3 - 1889

FREDERICK JUDD WAUGH - Sombras da tarde - Óleo sobre tela - 134,6 x 180,3 - 1885

Waugh era agora um artista disputado por colecionadores, que dividia também seu tempo com novos projetos navais. A paixão pelo mar era tanta, que construiu o seu estúdio em Massachusetts, com madeiras de navios velhos. Ele ia regularmente para o litoral, fazia seus apontamentos ao vivo e depois executava trabalhos em maiores dimensões e mais elaborados em seu estúdio.

Frederick Judd Waugh faleceu em Provincetown, Massachusetts, no dia 10 de setembro de 1940. 


CARLOS REIS

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CARLOS REIS - A feira - Óleo sobre tela - 277 x 400

CARLOS REIS - Paisagem com pastora e rebanho - Óleo sobre tela - 55 x 73

Já publiquei uma referência a Carlos Reis, na matéria que escrevi sobre o Grupo do Leão (link ao final do texto), em janeiro de 2011. Confesso que sinto praticamente na obrigação de estar falando um pouco mais sobre cada artista daquele grupo, não porque são uma referência natural para mim, mas porque acredito que precisam ser mais conhecidos do grande público. Especialmente porque ilustram, no meu ponto de vista, a fase de ouro da pintura portuguesa.

CARLOS REIS - Cantigas d'amor
Óleo sobre tela - 1929

CARLOS REIS - O batizado - Óleo sobre tela - 130 x 166
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Carlos António Rodrigues dos Reis nasceu a 21 de fevereiro de 1863 na Vila de Torres Novas, na freguesia de Santiago, em Portugal. Filho do cirurgião João Rodrigues dos Reis e Maria de Jesus Nazaré Reis. Com apenas treze anos de idade, partiu para Lisboa, trabalhando em uma tabacaria. Nos momentos de folga no serviço, punha-se a esboçar tudo que via, o que despertou interesse em alguns fregueses que frequentavam o lugar.

CARLOS REIS - Milheiral- Óleo sobre tela - 130 x 200

CARLOS REIS - Paisagem do Rio Almonda - Óleo sobre cartão - 54 x 74 - 1896

Em 1881, matriculou-se na Escola de Belas Artes de Lisboa, meio a contragosto inicial do pai. Teve a sorte de ter, naquele momento, os ensinamentos de Silva Porto, para as aulas de Pintura. Tornaria um dos mais disciplinados discípulos dele. D. Carlos, príncipe real, notou a destreza e competência do jovem artista, numa visita surpresa que fez em uma sessão de pintura. Prontificou então a ajuda-lo com uma mesada até o fim do curso.

CARLOS REIS - Engomadeiras - Óleo sobre tela - 178 x 120

CARLOS REIS - O caminhante - Óleo sobre tela - 127 x 148

Ao término de seu curso em Lisboa, concorreu a uma bolsa de estudos para a Escola de Belas Artes em Paris, conseguindo logo na primeira tentativa. Naquele mesmo ano seguiu para Paris e estudaria por lá até 1896. Percebe-se que os anos em Paris tiveram uma influência muito grande na obra final de Carlos Reis, que adquiriu pinceladas espontâneas, típicas do impressionismo que pairava pela cidade. Lá frequentou ateliês de renomados mestres, como o retratista Bonnat e o professor de pintura histórica Joseph Blanc.

CARLOS REIS - Casario com figura feminina - Óleo sobre tela - 45 x 66

CARLOS REIS - Azinhaga da Cruz da Pedra - Óleo sobre madeira - 24 x 31,5

Com a morte de Silva Porto, em 1893, criou-se uma vaga de professor para a cadeira de paisagem, na Escola de Belas Artes de Lisboa. Carlos Reis, retornando a Portugal em 1896, ocuparia essa cadeira, cargo que conquistou pela concorrência com dois outros artistas: António Monteiro Ramalho e Artur Melo. Vários artistas de destaque da arte portuguesa passaram pelos ensinamentos de Carlos Reis, durante o período que ocupou a cadeira de paisagens daquela escola. Vale ressaltar que todos eles seguiram suas carreiras com as referências de seu mestre, mas totalmente independentes em suas expressões artísticas.

CARLOS REIS - Paisagem da Lousã com figura - Óleo sobre tela - 65 x 45

CARLOS REIS - Paisagem com figura - Óleo sobre tela - 38 x 50

A primeira geração de grandes pintores naturalistas portugueses atuou durante os primeiros anos do chamado Grupo do Leão, um movimento de artistas liderado por Silva Porto, que recebeu esse nome por se encontrarem numa famosa cervejaria de Lisboa, a Leão d’Ouro. Carlos Reis foi um dos mais destacados pintores da segunda geração de pintores naturalistas de seu país. Influenciado evidentemente por Silva Porto, seu primeiro e grande mentor artístico, colaborou com a manutenção da arte naturalista portuguesa, incentivando principalmente ao trabalho em campo, criando o Grupo Ar Livre e mais tarde a Sociedade Silva Porto. Ele e seus discípulos faziam isso, tentando se opor ao crescente movimento modernista que tomava conta da arte do país.

CARLOS REIS - O véu da comungante - Óleo sobre tela - 136 x 147

CARLOS REIS - Plus de vin - Óleo sobre tela - 131 x 151

Carlos Reis já era dono de uma pintura respeitada, ainda que o movimento naturalista já começasse a entrar em decadência. Consagrado como pintor de paisagem, essa tinha sempre a incidência de alguma cena de gênero. Habilidoso, também pintava temas religiosos e tornou-se um retratista procurado em sua época. Os trabalhos do artista, principalmente paisagens, possuíam uma atmosfera poética em seu início de carreira. Mais tarde, essa característica foi dando lugar a uma representação mais objetiva daquilo que representava. Com relação aos artistas da primeira geração de naturalistas, os trabalhos de Carlos Reis tinham uma tendência um pouco mais acadêmica. Talvez por já pressentir o domínio modernista que vislumbrava no horizonte, preferiu continuar fazendo um trabalho que acreditava ser a representação daquilo que mais admirava na arte.

CARLOS REIS - Paisagem com figura feminina - Óleo sobre tela - 70 x 95

CARLOS REIS - Quinta dos Lagares del Rei, Lisboa - Óleo sobre madeira - 35 x 59

Durante vários anos, Carlos Reis exerceu o cargo de diretor do Museu Nacional de Belas Artes. Um dos momentos altos de sua direção, foi a organização da Sala de Faianças e Vidros, inaugurada em 1911. Em 1937, uma série de fatos abalou, e muito, a saúde de Carlos Reis. Uma forte dor no olho direito, fez com que o mesmo fosse extraído. No ano seguinte faleceu o seu irmão e no ano posterior, sua irmã. Somados todos esses fatores a fortes compromissos de trabalho que exigiam rapidez na entrega de encomendas, seu organismo acabou se debilitando. Vários problemas foram se somando e deixando cada vez mais sensível seu estado de saúde. Em 21 de agosto de 1940, Carlos Reis não suportou uma bronco-pneumonia e faleceu na cidade de Coimbra.

CARLOS REIS - Retrato de velho
Óleo sobre tela - 66 x 56

CARLOS REIS - Retrato de senhora
Óleo sobre tela - 36 x 26


Foi um artista revolucionário na arte de seu país, que conseguiu imprimir uma luminosidade invejável em seus trabalhos. Contrário ao que aconteceu a muitos artistas antes dele, sua arte não se declinou, muito pelo contrário, morreu em plena glória. Carlos Reis teve a felicidade de não conhecer a decadência artística, prova disso, é a segurança e maestria que nos mostrou em sua última tela. Merecer o título de “mestre” é uma honraria que culmina a carreira de todo artista. Carlos Reis não só o mereceu e conquistou, como deixou a arte portuguesa mais rica e a elevou a patamares de reconhecimento mundial.


VEJA TAMBÉM:


LAWRENCE ALMA-TADEMA

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LAWRENCE ALMA-TADEMA - Um amante da arte romana
Óleo sobre painel - 55,9 x 84,5 - 1868

“Fazer da queda, um paço de dança.” Essa é uma famosa frase do escritor mineiro Fernando Sabino, e é interessante como a vemos assumida na vida de tantas pessoas, em várias partes do mundo, em épocas completamente distintas. Lawrence Alma-Tadema viveu quase um século antes de Sabino, mas ambos sentiam na alma, a força daquela expressão que tão bem representou a carreira dos dois. Foi por causa de uma doença, a tuberculose, diagnosticada ao jovem Alma-Tadema, quando tinha apenas 15 anos de idade, que sua vida tomou um novo rumo. Aquilo que acenava como uma queda, foi o paço que faltava para compor a dança de sua vida. Para recuperar da doença, o jovem foi colocado em repouso, onde tinha como opção apenas desenhar e pintar. Atividades que tinham muito pouco a ver com ele anteriormente, desenvolveram nele um gosto tão grande, que não teve dúvidas: após recuperar de sua doença, decidiu que queria seguir a carreira de pintor.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Primavera - Óleo sobre tela - 178,4 x 80,3 - 1894

Lourens Alma Tadema (posteriormente Lawrence Alma-Tadema) nasceu no dia 8 de janeiro de 1836, na aldeia de Dronrijp, província de Friesland, ao norte da Holanda. Nascido do segundo casamento de seu pai, era o sexto filho de Pieter Jiltes Tadema e o terceiro filho de Hinke Dirks Brower. Pelas intenções da mãe, Lawrence seria encaminhado para os estudos de Direito, mas em 1851, ele sofreu um colapso nervoso e mental. O diagnóstico de tuberculoso fez a família rever os planos para seu futuro. Tendo o desenho e pintura como auxiliares no tratamento de recuperação da enfermidade, acabou tomando gosto por eles. Um ano depois, ele entrou para a Academia Real da Antuérpia, na Bélgica.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Um antigo festival- Óleo sobre tela - 77 x 177 - 1870

Os quatro anos que estudou naquela instituição renderam muitos frutos para sua recente carreira. Conquistou prêmios respeitáveis por lá e ainda pode estar mais próximo da companhia do professor Louis Jan de Taeye, do qual se tornou um assistente. Mesmo que de Taeye não fosse uma referência excepcional de pintor, tinha um gosto refinado por história e isso despertou a atenção de Lawrence. Ficou especialmente atraído pela cultura merovíngia, que explorou em suas pinturas por um bom período e o trouxe uma fama especial por aquela característica.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Rivais inconscientes - Óleo sobre tela - 45,1 x 62,8

Em 1858, Alma- Tadema passou uma temporada em Leewarden, antes de se estabelecer em Antuérpia. Ali, trabalhou nos estúdios de Baron Jan August Hendrik Leys, um dos mais conceituados espaços artísticos da Bélgica, naqueles tempos. Foi naquele ambiente que produziu a obra “A educação dos filhos de Clovis”. Muito aclamada entre os críticos e visitantes do Congresso Artístico de Antuérpia, podemos considera-la como a obra-alicerce de sua reputação e fama.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - O discurso
Óleo sobre painel - 40,6 x 25,4

Fazer pintura com referência histórica requer muita disciplina. Há toda uma pesquisa que envolve cada tema escolhido para representar, como mobiliário, vestuário, utensílios, hábitos de cada povo... O assunto com a cultura merovíngia era atraente para Alma-Tadema, mas não muito atraente para o público, que preferia culturas mais sofisticadas e exóticas, como a egípcia e grega. Foi quando Alma- Tadema decidiu montar seu próprio ateliê e explorar com mais acuidade o tema de culturas europeias clássicas.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - O encontro de Moisés - Óleo sobre tela - 137,7 x 213,4 - 1904

O ano de 1863 traria mudanças para a vida de Alma-Tadema. Logo que iniciou o ano, faleceu a sua mãe e pouco depois da metade do ano, casou-se com Marie-Pauline Gressin Dumoulin. Eles passaram sua lua-de-mel em Florença, Roma, Nápoles e Pompeia. Era o ingrediente que faltava para que ele decidisse de vez a sua carreira. À partir dali, aumentaram ainda mais os seus interesses pelas culturas romanas e gregas e estas ocupariam os seus trabalhos para as próximas décadas.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Num jardim de rosas - Óleo sobre painel - 37,5 x 50,7 - 1890

A carreira ia se solidificando, assim como solidificava também o interesse pelas culturas antigas. Alma-Tadema pesquisava ainda mais, a fim de que suas composições ganhassem maior veracidade. Perfeccionista, tinha uma atração especial pela representação do mármore, que em suas obras tem realmente uma representação especial. Da união com Marie-Pauline nasceram três filhos. O primeiro viveu poucos meses, vítima de varíola, e os outros dois desenvolveram habilidades artísticas mais tarde. Ernest Gambart, um importante editor e negociante de arte teve uma participação importante nessa fase da vida de Alma- Tadema, encomendando uma série de trabalhos para ele, assim como conseguindo introduzir seus trabalhos em Londres.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - O que é aquilo?
Óleo sobre painel - 29,2 x 22,5 - 1863

Em maio de 1869, Marie-Pauline faleceu, vítima de varíola. Ela tinha apenas 32 anos, e sua morte deixou Alma-Tadema desconsolado e deprimido por um longo tempo. Até a pintura, ele deixou de praticar por quatro meses. A depressão acarretou outros problemas, que os médicos locais não conseguiam diagnosticar. Sob conselhos do editor Gambart, Alma- Tadema foi encaminhado para Londres, a fim de consultar outros especialistas. Durante o tratamento, Alma-Tadema conheceu um artista muito influente nos meios britânicos, Ford Madox Brown, a quem passou a visitar regularmente. Foi em seu estúdio, que conheceu a jovem Laura Theresa Epps, de apenas dezesseis anos, e que mudaria sua vida.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Um estúdio romano - Óleo sobre painel

Dois fatores influenciaram bastante na mudança de Alma-Tadema para Londres: o início da guerra Franco-Prussiana, em julho de 1870 e a lembrança constante de Laura Theresa em sua cabeça. Ele chegou a Londres no mês de setembro daquele ano e a vida começava a encontrar seus trilhos. A ideia de dar aulas para ela foi um pretexto encontrado para assedia-la com mais frequência. Numa dessas sessões, acabou pedindo sua mão em casamento. Inicialmente contrário ao pedido, o pai da jovem decidiu que deveriam se conhecer melhor. Eles se casaram em julho de 1871. Ela, também artista, adotou o sobrenome Alma-Tadema, que lhe rendeu bons frutos na carreira. O novo casal não teria filhos. Laura cuidou muito bem dos dois filhos que vieram com Alma-Tadema. Ela também seria modelo para várias composições, uma delas, em especial, é “Mulheres de Amphissa”.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Mulheres de Amphissa - Óleo sobre tela - 122,5 x 184,2 - 1887

Londres se tornaria a morada definitiva para Alma-Tadema. A escolha não poderia ter sido melhor. Ali encontrou fama e respeito, tornando-se inclusive um dos artistas mais bem-pagos de seu tempo. O contato com vários artistas ditos pré-rafaelitas iluminou sua paleta e deu um novo impulso em sua carreira. Em 1872, numa nova viagem de 5 meses e meio pelo continente europeu, Alma-Tadema aprofundou ainda mais suas pesquisas sobre culturas antigas. Colecionava fotografias, documentos, utensílios, visitava locais ainda bem preservados.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Uma galeria de esculturas
Óleo sobre tela - 1867

Em 1876 ele alugou um ateliê em Roma e produziria importantes obras no período que esteve por lá. O mais importante prêmio almejado por um artista foi concedido a ele em 1879, quando foi considerado um acadêmico completo. Três anos depois, uma grande retrospectiva de sua produção foi realizada na Galeria de Grosvenor, em Londres, com cerca de 185 trabalhos. O retorno para Roma, em 1883, tinha como intenção principal, visitar as novas escavações de Pompeia. Estas lhe renderam novamente muitas fontes para composição nos novos trabalhos.

LAWRENCE ALM-ATADEMA - Amo-te, ama-me - Óleo sobre painel - 17,5 x 38 - 1881

O preciosismo na composição continuava mais intenso do que nunca. Para pintar o famoso quadro “As rosas de Heliogábalo”, centenas de flores eram enviadas semanalmente da Riviera francesa, a fim de que conseguisse uma originalidade ímpar em sua tela. A cena era baseada no episódio da vida de um imperador romano que tentou sufocar seus convidados em uma orgia de cascata de rosas. Foi um dos seus períodos mais férteis e do qual originaram obras muito importantes.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - As rosas de Heliogabalus
Óleo sobre tela - 132,1 x 213,9 - 1888

Do ponto de vista pessoal, Alma-Tadema era extrovertido e muito caloroso. Além de profissional acima de tudo em sua carreira, também era um ótimo negociante. Não é à toa a sua fama de um dos mais ricos artistas do século XIX. Corpulento, era amante de um bom vinho, mulheres e festas. Mesmo com a diminuição de suas atividades, em parte por causa da saúde, continuou colecionando títulos e honrarias até os anos finais do século XIX. Para descansar um pouco das pinturas, começou a desenhar móveis e fantasias, além de projetos para teatro. Os anos iniciais de 1900 ainda teriam muitas obras suas, dentro daquele tema que considerava favorito: mulheres em terraços, com vista para o mar. “O encontro de Moisés” foi uma das obras mais marcantes dessa época.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Pratas favoritas
Óleo sobre tela - 69,1 x 42,2 - 1903

No dia 28 de junho de 1912, Alma-Tadema faleceu, vítima de uma ulceração do estômago. Ele está sepultado numa cripta na Catedral de Saint Paul, em Londres. O mundo perdia um de seus artistas mais dedicados, que jamais se rendeu aos modernismos que começavam em seu tempo. Por mais de sessenta anos de carreira, deu ao seu público exatamente o que ele queria: pinturas bem elaboradas, com pessoas bonitas e em ambientes clássicos. Inacreditavelmente, seu legado artístico quase desapareceu, após sua morte. Críticas nada necessárias, feitas por alguns jornais e críticos de arte, deixaram seus trabalhos quase que no anonimato durante várias décadas. Somente à partir da década de 1960, os trabalhos de Alma-Tadema retomaram o prestígio que nunca deveriam ter perdido. Hoje, ele é considerado como um dos principais artistas com temas clássicos do século XIX, que fez, como poucos, um verdadeiro estudo arqueológico, para demonstrar veracidade e exatidão nas obras que criava.

LAWRENCE ALMA-TADEMA - Auto-retrato
Óleo sobre tela - 65,7 x 52,8

VELHAS GAMELEIRAS

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Fase de acabamento da tela "Velhas gameleiras".

Entre o centro da cidade de Dionísio e uma montanha chamada Morro do Tatu, começa uma extensa planície, cortada pelo Ribeirão Mumbaça. Um lugar de terras férteis, onde animais encontram um capim sempre verdinho e também um dos lugares que mais gosto de pintar e fotografar. Foi uma série de fotografias feitas por lá em 2014 e uma sessão de plein air, realizada lá em 2015, que me inspiraram a estar pintando a tela “Velhas gameleiras”.



JOSÉ ROSÁRIO - Velhas gameleiras - Óleo sobre painel - 20 x 30 - 2015
Esboço realizado em plein air.

Foto de referência de 2014.

Depois de outras voltas ao local e mais uma série de esboços e fotografias, comecei a trabalhar na grande tela, que mede 63 x 154 cm. O trabalho foi realizado entre fevereiro e março desse ano e foi enviado ao Salão de Belas Artes de Piracicaba, e foi com ele que recebi duas premiações por lá: Medalha de Ouro e Prêmio de Aquisição. O trabalho agora faz parte do acervo da Prefeitura Municipal de Piracicaba, em São Paulo.

Detalhe 1

Detalhe 2

JOSÉ ROSÁRIO - Velhas gameleiras - Óleo sobre tela - 63 x 154 - 2016


PALETA USADA NA EXECUÇÃO DA OBRA:

Branco de Titânio (Winsor & Newton)
Amarelo claro permanente (Corfix)
Amarelo ocre (corfix)
Amarelo indiano (Corfix)
Laranja (Corfix)
Terra de siena natural (Corfix)
Terra de siena queimada (Corfix)
Vermelho francês (Corfix)
Sombra natural (Corfix)
Marrom Van Dick (Corfix)
Azul cerúleo (Corfix)
Azul de cobalto (Corfix)
Alizarin crimson (Winsor & Newton)
Verde viridian (Lefranc)
Verde óxido de cromo (Corfix)
Violeta permanente (Corfix)

RENATO MUCCILLO

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RENATO MUCCILLO - Valley thunderhead - Óleo sobre tela - 122 x 122

Foi numa manhã de outono, alguns anos atrás, passeando com seu cão galgo, que Renato Muccillo encontrou o seu caminho na arte. Era um dia como outro, em um canto de Fraser Valley, próximo à cidade de Vancouver, o céu coberto com grossas nuvens e ventos cortando o ar em ocasionais rajadas. Um silêncio profundo era intensificado ainda mais pelos azuis que brotavam em todos os cantos, seja nas sombras dos arbustos ou na calmaria da água... Interrompido apenas por alguns distantes pássaros que voavam em suas rotas. De repente, ele ficou impressionado com aquela gloriosa sensação de parecer ser a única pessoa no mundo naquele momento. O impacto daquele instante foi tão intenso que ele decidiu, ali mesmo, que rumos daria para sua arte.

RENATO MUCCILLO - Difusão óxida - Óleo sobre tela - 38,1 x 76,2

RENATO MUCCILLO - May meadows - Óleo sobre tela - 35,5 x 45,7

No início da década de 1990, Muccillo começou a trabalhar em imagens hiper-realistas, principalmente de animais canadenses. Tornou-se inclusive integrante numa empresa de Toronto, que colocava aquele tipo de trabalho no mercado. Ele era praticamente um autodidata, mas com uma disciplina acima da média. Mas, assim como ele, muitos outros artistas parecem ter tido aquela mesma ideia no momento, e então o mercado se viu saturado com aquela temática. Frustrado, ele decidiu parar de pintar em 1996, e arrumou um serviço burocrático em uma empresa administrativa.

RENATO MUCCILLO - Formações, estudo - Óleo sobre tela - 28 x 28

RENATO MUCCILLO - Ford Road Nocturne - Óleo sobre tela - 30,5 x 61

Nos anos finais de 1990, uma mostra de sete artistas canadenses, acontecida numa galeria em Voncouver, daria um novo alento ao artista que até então parecia um pouco perdido. As obras daquela mostra retratavam paisagens do Canadá em estilos que iam desde um impressionismo lírico a cenas expressionistas carregadas de emoção. As obras libertaram o olhar de Muccillo e o tiraram da confortável zona de quem produz cenas hiper-realistas para um pintor que desejava abordar cenas de forma mais abstraída. O desejo de mudança, somado ao passeio ocasional naquele dia de outono, despertaram nele a vontade de retratar o mundo que via, silencioso e introspectivo, numa abordagem técnica completamente diferente.

RENATO MUCCILLO - Formações - Óleo sobre tela - 71,1 x 55,8

Assim, nascia o artista Muccillo dono de uma paleta mais arrojada, com cores que vinham mais de seu interior do que propriamente do mundo que via, com uma resolução pictórica mais despojada e livre, onde a fluidez tornava-se o ingrediente essencial em sua obra. O estilo comportado do início de carreira deu espaço a uma abordagem muito mais dinâmica, com bases monocromáticas intensas, efeitos sutis nos detalhes e camadas de veladura que intensificavam ainda mais o volume e o contraste. Ele apresentou essa nova série pela primeira vez em 2002 e o resultado perante público e crítica foi imediato. Desde 2003, sua agenda ficou apertada. Seguiram uma fase normal de prêmios e exposições que não tem mais volta.

RENATO MUCCILLO - A oeste de Mc Donald Beach - Óleo sobre tela - 45,7 x 76,2

RENATO MUCCILLO - Veia de prata - Óleo sobre tela - 61 x 121,9

Renato Muccillo nasceu em Vancouver, no Canadá, em 1965. Descendente de pais italianos, que deixaram uma vila tranquila na região dos Apeninos, no sul da Itália. Desde muito jovem, recebeu um impulso para explorar suas habilidades manuais e o desenho e a pintura se mostraram o caminho mais prazeroso para ele. Diferentemente de muitos artistas de sua geração, Muccillo não procurou uma escola. Seu aprendizado formou das pesquisas literárias e das visitas a exposições e museus. A primeira influência marcante veio de Robert Bateman, que produzia animais da vida selvagem canadense com um realismo impressionante. Essa influência o acompanharia por muito tempo, até, anos mais tarde, adotar o que chama de um impressionismo profundamente controlado. Seus trabalhos atuais tem uma influência evidente do tonalismo e luminismo de pintores americanos do século XIX.

RENATO MUCCILLO - Island meadow at dusk - Óleo sobre tela - 27,9 x 27,9

RENATO MUCCILLO - Cut banks - Óleo sobre tela - 20,3 x 61


Muccillo ainda se rotula como um artista autodidata, que procura entender como é e se motiva com suas próprias descobertas. Foi uma decisão sua não ter professores, exatamente para não ter uma influência muito marcante. Ele considera que com sua intuição pode aprender tudo aquilo que precisa saber. O que parece ser uma decisão egoísta, é na verdade a opção de um artista que prefere ter uma jornada independente. E como ele mesmo afirma: “quero ver até onde posso ir.”


PARA SABER MAIS:



GIANLUCA CORONA

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GIANLUCA CORONA - Controvento - Óleo sobre madeira - 60 x 100 - 2014

GIANLUCA CORONA - Mel natural - Óleo sobre madeira - 50 x 80

A natureza-morta é um gênero de pintura que se caracteriza pela representação de objetos inanimados e foi utilizada pela primeira vez na Grécia, segundo antigas escavações por lá. Seguidora fervorosa das tradições e novidades que vinham da Grécia, a Itália também adotou o gênero, como comprovam escavações feitas em Pompeia, onde pinturas e mosaicos adornavam paredes e objetos. Aliás, a Itália se tornou um país com produção considerável dessa vertente. O Renascimento daria nomes louváveis nessa área, como Caravaggio, e o país serviria também de incentivo para os países do norte da Europa. Mantendo a tradição italiana de naturezas mortas, Gianluca Corona é um dos grandes representantes atuais nessa área.

GIANLUCA CORONA - Composição com ameixas e magnólia - Óleo sobre madeira - 40 x 60

GIANLUCA CORONA - Consonanza - Óleo sobre tela colada em madeira - 25 x 50 - 2012

Gianluca Corona nasceu na cidade de Milão, no ano de 1969 e em 1991 ele já estaria formado pela Academia de Belas Artes de Brera, também na cidade de Milão. Uma das referências artísticas da cidade e também do norte da Itália, a Academia de Brera, como é mais conhecida, é um emblema da perfeita ligação entre Ciência, Letras e Artes. Gianluca se formou ali sob rigorosa disciplina. Ao deixar a Academia, ele concluiu seus estudos na cidade de Bérgamo, agora sob os ensinamentos de Mario Donizetti. Conhecido internacionalmente por ser um ensaísta e eficiente artista técnico, Donizetti também apurou em Corona o gosto pelo trabalho bem executado e o rigor da aplicação técnica.

GIANLUCA CORONA - Uvas - Óleo sobre tela - 70 x 100 - 2011

Não é de estranhar que a arte de Gianluca Corona tenha inspiração nos mestres passados. Ele se apossou das técnicas tradicionais dos séculos XVI e XVII e faz questão de utilizar os mesmo materiais desenvolvidos naqueles tempos. Ele aplica os conhecidos baseados daquelas épocas em retratos e naturezas mortas. Essas últimas são o cartão de visita de sua produção e com elas vem conquistando respeito dentro e fora de seu país.

GIANLUCA CORONA - Figos - Óleo sobre madeira - 25 x 35 - 2011

GIANLUCA CORONA - Scarlet - Óleo sobre madeira - 25 x 25 - 2013

Diversos críticos e conhecedores da arte italiana, colocam esse artista lombardo como um profissional sem paralelo na arte figurativa de seu país. De comportamento humilde, seletivo em suas composições e produção altamente eficiente, é sensato dizer que Gianluca Corona já deixa sua marca na arte italiana desses tempos.

GIANLUCA CORONA - Susine - Óleo sobre madeira - 30 x 55 - 2014

Até bem pouco tempo atrás, a natureza morta era considerada um gênero secundário da arte pictórica em diversas partes do mundo. Felizmente, esse gênero retorna com força ao cenário mundial, graças às grandes feiras internacionais e exposições mundiais que ressuscitaram essa temática. E, evidentemente, aos competentes artistas de vários países que vem devolvendo a esse gênero, o lugar de destaque que não merecia ter perdido. Devido ao grande sucesso de Gianluca Corona com essa temática, em exposições em Londres e Bélgica, ele se tornou o grande artista italiano representante desse gênero na atualidade.

GIANLUCA CORONA - O mel de Miranda - Óleo sobre madeira - 35 x 80 - 2014

GIANLUCA CORONA - Duelando - Óleo sobre madeira - 25 x 55 - 2013

Com desempenho técnico admirável e com atenção especial dada a cada detalhe das obras, Corona se encaixa na vertente hiper-realista dessa nova safra de pintores de naturezas mortas. Nada escapa ao seu olhar: frutas, legumes, folhas, queijos, pães, objetos, todos relembrando a influência dos antigos trabalhos que foram a base de sua formação. A tensão vibrante que consegue em seus desenhos e pinturas, vai muito além do resultado fotográfico, como se conseguisse um realismo mágico, que expressa formas e cores de uma forma bem delicada.

GIANLUCA CORONA - Estados - Óleo sobre tela - 40 x 80

GIANLUCA CORONA - La contesa
Óleo sobre tela - 35 x 60

Para uma época, onde não pareça existir mais nada de novo a criar no mundo da arte, o melhor mesmo é observar atentamente o que os eficientes artistas dessa geração tem explorado com antigos temas. Gianluca Corona faz exatamente isso, pega os antigos temas e fórmulas, mas os reveste de todo seu sentimento e dedicação. Não há como não se sensibilizar com sua obra. O artista ainda vive e trabalha em Milão e suas obras estão espalhadas por várias coleções públicas e privadas de diversas partes do mundo.


PARA SABER MAIS:



SOLIDÃO: ALIADA OU INIMIGA?

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JOHN MICHAEL CARTER - Sessão de plein air - Óleo sobre tela

“É a solidão que inspira os poetas, cria os artistas e anima o gênio.”
Henri Lacordaire

Na arte, mais do que em qualquer outro lugar, a solidão torna-se praticamente necessária. Não que ficar sozinho torna alguém naturalmente criativo, mas porque estar em sua própria companhia, permite o melhor conhecimento de si mesmo e do mundo a sua volta. É no silêncio de sua própria companhia que se constroem as mais valiosas pontes para aquilo que a mente pode planejar e as mãos podem executar. Esse refúgio é uma oportunidade que nos permite encontrar com algo de mais precioso escondido em nosso interior e depois trazê-lo ao mundo, porque a solidão é um local muito bom de ser visitado, mas não para ficarmos lá definitivamente. Assim, nascem as mais belas poesias, as músicas mais agradáveis e os quadros mais admiráveis. Toda vez que retiramos para nossa companhia e conseguimos produzir aquilo de mais sincero que há em nós, devemos compartilhá-lo com o mundo. Somos humanos, e viver em sociedade está em nossa essência. A primeira condição para destruir a solidão isolamento é oferecer ao mundo algo que acrescente. 

FERDINAND SCHAUSS - Eegie - Óleo sobre tela - 138 x 107
O vazio das relações incompreendidas.

“Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes é preciso ser um.”
Fernando Pessoa

Por uma questão histórica, a palavra solidão não está ligada a situações muito agradáveis. Afinal, ficou o conceito errôneo de que estar em solidão é estar solitário e, associado a isto, estão muitos outros adjetivos indesejáveis: abandonado, isolado, recusado, triste, melancólico... A palavra foi esvaziada de sua real significância. Isso que todos reconhecemos atualmente como solidão, poderíamos chamar de isolamento. A solidão verdadeira nada mais é que um momento de reclusão, de estar consigo, voltar o olhar para dentro e não para fora. Procurar em si mesmo o que nunca encontrará em outra pessoa. Graças ao mau uso da palavra, solidão deixou de ser uma prazerosa opção, para se tornar uma situação da qual se tenta fugir a qualquer custo.

EDGAR DEGAS - O absinto - Óleo sobre tela - 92 x 68 - 1876
Os olhos fixados no vazio, procurando encontrar no álcool 
o refúgio contra uma solidão
que nunca será preenchida. Os vícios são prisões difíceis de escapar.

“Quando somos abandonados pelo mundo, a solidão é suportável; quando somos abandonados por nós mesmos, a solidão é quase incurável”.
Augusto Cury

Para certos tipos de solidão, é difícil até descrever. Pense no momento final de um suicida, ou no desespero de um dependente de drogas em profunda abstinência. Pessoas que perderam completamente a perspectiva de tudo. Tornaram-se extremamente isoladas porque esqueceram como oferecer algo ao mundo. Como estão totalmente vazias, não suportam as suas próprias presenças. Um suicida geralmente não quer perder a vida, mas parar a dor imensa que já não suporta mais sentir. Um dependente tenta tão desesperadamente fugir de si, que não consegue mais sobreviver em condições naturais. As drogas se tornam uma prisão aterradora, disfarçadas de uma liberdade que nunca existiu.

HUGUES MERLE - Abandonada - Óleo sobre tela - 64,8 x 50,8 - 1872
A espera que o outro possa completar aquilo que falta em ti,
pode levar a consequências sem retorno.

“Estar com alguém apenas para não estar sozinho é solidão mal administrada”.
Martha Medeiros

Os ditados populares são de uma riqueza imensa. Quantas vezes ouvimos a expressão, “antes só que mal acompanhado”... Muitas pessoas tem o péssimo hábito de buscar no outro, aquilo que falta nelas. E acabam procurando algo em outras pessoas que estão ainda mais vazias que elas. Isso é uma combinação extremamente perigosa. Quando se está perdido, um caminho qualquer sempre levará a lugar nenhum.

FREDERIC EDWIN CHURCH - Crepúsculo no ermo
Óleo sobre tela - 101,6 x 162,6 - 1860
No silêncio de algumas horas, o medo de nós mesmos.

“A gente foge da solidão, quando tem medo dos próprios pensamentos”.
Érico Veríssimo

Há momentos em que a natureza está nos convidando à introspecção. É assim ao sair e ao por do sol. Há um silêncio gratuito no ar, nos oferecendo aqueles cenários como espelhos. Ter a coragem de admirar um por de sol é aceitar um reflexo de si mesmo oferecido pela natureza. Por isso, muitas pessoas não suportam os crepúsculos e nem o alvorecer. É no silêncio que se escondem os nossos maiores medos.

JESSE SILVER - O chapéu branco, uma cena em Ghiradelli Square
Óleo sobre tela - 121,9 x 182,9
As cidades se tornaram um aglomerado de estranhos.

“O mal do século é a solidão. Cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição.”
Renato Russo

Nos tempos modernos, o isolamento parece ter virado moda. Chega a ser um paradoxo, mas exatamente no momento em que a comunicação tecnológica tornou-se mais poderosa, as pessoas se encontram cada vez mais solitárias. As ruas estão apinhadas de pessoas que sequer se olham, sequer se cumprimentam. A internet aproxima os distantes e afasta os próximos. As amizades não são mais construídas no calor do abraço e do aperto de mão, mas nas palavras cada vez mais resumidas de uma comunicação que se extingue. Cidades se tornaram um aglomerado de estranhos, com habitantes que sequer sabem os nomes de seus próprios vizinhos. Ansiedade e depressão são as companheiras dos novos tempos.

DOUGLAS OKADA - Tirando um cochilo - Óleo sobre tela - 80 x 110 - 2014
Aos excluídos, um mundo de completo isolamento.

“Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e assim mesmo me sentir como se estivesse plena de tudo.”
Clarice Lispector

Já pensaram como a solidão também parece ser uma condição imposta pela sociedade? Para o mundo daqueles que se dizem “normais”, qualquer pessoa que não se “enquadra” ao meio é convidada naturalmente a viver em reclusão. Assim acontece com as pessoas com necessidades especiais, tanto físicas quanto mentais; também com os menos favorecidos; às pessoas com preferências sexuais diferenciadas; aos menos inteligentes... Não poder usar a roupa da moda, não ter o rosto bonitinho, pesar alguns quilos a mais, lutar por causas aparentemente impossíveis, são apenas alguns dos exemplos daqueles que não conseguem suportar a terrível condição que diariamente impõe o mundo dos ditos “normais”. E, como muitas dessas pessoas excluídas não conseguem arranjar forças para travar suas lutas solitárias, muitos desistem e infelizmente se isolam e se anulam ainda mais. É o olhar comparativo que nos lança nas mais sombrias jaulas. Cada pessoa é um ser único e possui valores que são só delas. É se conhecendo melhor que cada um resgata seus próprios valores. E não conseguirá isso se tiver medo da solidão que pede introspecção.

FRAGONARD - Uma jovem leitora - Óleo sobre tela - 81,1 x 64,8 - 1770
Na busca pelo conhecimento de si, valem a calma de uma música,
o retiro para uma sincera oração
e os tesouros de uma boa leitura.

“Se desejas saber quem és, observa o que pensas, quando estás sem ninguém”.
Chico Xavier

É o que você faz em seus momentos de ócio, que determinará o que você é em todos os outros momentos. Converse mentalmente consigo, conheça-te antes de querer conquistar o mundo, trave os diálogos mais temidos com suas dúvidas e não saia de sua presença sem que os tenha resolvido, não adie o autoconhecimento. Inspire-se por boas músicas, que confortem e deem paz a sua alma. Se é religioso, aprofunde os conhecimentos de sua fé. Leia bons livros, são companheiros que estão sempre disponíveis para aqueles que os procuram. Numa antiga canção, uma frase dizia que “no interior da gente há uma casa, a porta da frente vive aberta”. Não hesite, entre, faça a companhia necessária ao seu próprio interior. Mas, não se esqueça, a paz que irá conquistar e o bem-estar que irá sentir também devem ser divididos com o mundo. Não nascemos para ser ostras. Não se assuste quando sair de sua companhia e voltar ao mundo. Ao se conhecer melhor, o mundo não muda, mas muda a maneira como o vemos e o aceitamos. A nitidez do que é mais pesado, torna-nos apenas mais leves.


A DANÇA DAS ESFERAS

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JOSÉ ROSÁRIO - A dança das esferas - Óleo sobre tela - 70 x 100 - 2008 - Coleção particular

Sigo o curso das estrelas?
Eu me proponho a ordem dos mundos ou abraço ao caos?

Por um instante, saio da minha restrita pequenez e me permito passear pelo universo. De início, a lucidez do infinito me assusta. Aqui e ali, galáxias se expandem e seguem seus cursos. Serenas! Diante dos meus olhos, um turbilhão de energia que se organiza constantemente. Não há rebeldia, nenhum corpo celeste vai em direção contrária aos seus propósitos. Gravidade atrai e repele, com a precisão cirúrgica que miseravelmente não sabemos conceber. Dentro de cada estrela, uma pequena fração da misteriosa energia que gera a vida.
Mas, o universo é superlativo demais. Em uma proporção infinitamente menor, volto ao meu planeta. A mesma ordem se revela aos meus olhos. Minerais se organizam e edificam todas as estruturas, numa sinfonia que até então me era estranha. No compasso das estações, tudo se recolhe ou desabrocha. A água tem o seu ciclo e está novamente em tudo que é vivo, como a misteriosa energia das estrelas. Um reino servindo ao outro, numa cadeia de sobrevivência sob o respeito de uma batuta invisível. Novamente, a ordem natural das coisas se estabelece sob meus olhos. E me encontro em mim.
Em meu corpo, o infinito se manifesta na mesma ordem. Minerais se agrupam em células e moléculas, e lá estão todos os fluidos, órgãos e membros. Não há rebeldia! Cada célula desempenhando o seu papel, nascendo e morrendo dentro de mim. No infinito maior ou no infinito menor, percebo, nem que por um instante, a maravilhosa dança das esferas. A isso, chamamos de imanência. A força maior no mundo e em mim. Silencio! A paz me estende as mãos e eu me permito bailar com ela.

JACQUES-LOUIS DAVID - A morte de Sócrates
Óleo sobre tela - 129,5 x 196,2 - 1787 - Museu Metropolitano de Nova York
Ao ter sua morte decretada como punição por influenciar aos seus
seguidores, Sócrates percebeu que era a verdadeira vida que estava sendo
oferecida. Morria seu corpo. Nascia ali, mais do que nunca, as suas ideias.

A ignorância gosta de lançar suas âncoras no mar da comodidade. É no canteiro da dúvida que brota viçosa toda sabedoria. Despertar é romper a casca da inconsciência! Nunca ter medo das perguntas, nem tão pouco das respostas. E a pergunta maior se fez: o que está por trás de toda ordem cósmica, a mesma que rege as galáxias e até a minha menor partícula? Quer você queira ou não, essa ordem cósmica existe, desde o sempre até o eterno, bagunçando a cabeça de físicos ou simplesmente curiosos. Dentro de sua crença, ou à luz de suas especulações, chame-a do que quiser: Deus, Lei Mística, força cósmica, energia universal... Simplesmente a aceite e jogue fora todos os conflitos que carrega. Você vai ver que seguir mais leve tem suas vantagens. Para o caminho ascendente, tudo que é supérfluo impede o caminhar.
Aceitar é um movimento de acolhida. A exemplo das galáxias ou mesmo da minha menor partícula, preciso apenas seguir meu curso. E seguir conforme ele, pede apenas que eu não vá no sentido contrário de sua ordem. Nós humanos somos os únicos seres que rebelam contra a ordem. Não a acolhemos como ela espera que o façamos. Todos os sofrimentos nascem daí. Fico imaginando que apenas esse planeta já seja mais que suficiente para nos suportar. Mesmo confinados aqui, ainda não percebemos os limites da nossa pequenez. A ganância nos faz destruir matas e extinguir rios, dizimar espécies e ferir ao próximo. Não aprendemos a ver no outro e em todas as coisas que nos cercam, os companheiros de viagem na breve existência da forma que ocupo hoje. Porque a vida é cíclica, todo o eu físico que sou hoje continuará por aí, agrupando em outras formas, seguindo o curso da ordem que não para, com ou sem a minha permissão. A eterna música da vida está no ar e o maestro invisível a oferece a todos nós. É nesse momento que nós, humanos, podemos fazer a diferença. Por uma série de atos, a minha caminhada pode ser maior do que apenas ser. Pensar no bem de tudo e de todos e dividir com os que virão o que melhor experimentei um dia. A isso chamamos de transcendência. Transcendência é a fração do desejo da ordem maior que habita em mim. Um sopro de Deus para os que creem ou a chama da ética para os que preferem assim. Muitos já se esforçaram para nos passar suas experiências: Jesus, Buda, Maomé, Confúcio... Até chegamos a ouvir suas falas, mas ainda não as colocamos em prática, no rigor de suas simplicidades. Continuamos como lamentáveis criaturas rebeldes, que fogem da ordem dos mundos e criam seus próprios conflitos.

Rompida a casca que antes me cegava, e desperto para uma consciência mais sincera, refaço as mesmas perguntas: Sigo o curso das estrelas? Eu me proponho a ordem dos mundos ou abraço ao caos?

JOSÉ ROSÁRIO - A dança das esferas 2 - Óleo sobre tela - 60 x 100 - 2008 - Acervo particular
Em 2008, fiz uma série de 8 telas, intitulada A Dança das Esferas.
Era a possibilidade de explorar uma arte metafísica, que durou cerca de 9 meses.

LOUIS GURLITT

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LOUIS GURLITT - Paisagem próxima a Silkeborg, Jutlândia, Dinamarca
Óleo sobre tela - 46,5 x 63 - 1840

LOUIS GURLITT - Vista do Lago Garda - Óleo sobre tela - 44,5 x 66,5 - 1879

Amante da natureza, Louis Gurlitt foi um pintor dinamarquês, que se naturalizou alemão em idade mais avançada. Filho de Johann August Wilhelm Gurlitt e Helene Eberstein, foi criado numa numerosa família, juntamente com mais 17 irmãos. Foram tempos difíceis, num período conturbado da história de sua região. Os filhos foram criados praticamente na pobreza e se não fosse o auxílio de vários conhecidos, muitas das crianças da família não teriam sequer se alfabetizado. Pela disciplina e vontade de se superarem, tornaram bem sucedidos em anos posteriores.

LOUIS GURLITT - Litoral italiano - Óleo sobre tela - 1844

LOUIS GURLITT - Cena costeira da Albânia
Óleo sobre tela - 34,5 x 26 - 1844

Heinrich Louis Theodor Gurlitt nasceu na cidade dinamarquesa de Altona, a 8 de março de 1812. Altona era uma das maiores cidades dinamarquesas da época, que tinha, entre outras vantagens, privilégios reais, inclusive a liberdade de religião, coisa não permitida em muitas partes do país. Mas, também era um local de vida difícil para os menos abastados e, sempre havia a solidariedade de alguns com posição social mais confortável. Günther Gensler, um amigo da família, quem incentivou o jovem Louis Gurlitt a evoluir em seus estudos na arte. Foi ele quem levou o ainda jovem para a cidade de Hamburgo e financiou seus custos, para que concluísse seus estudos primários, coisa que realizou em 1826.

LOUIS GURLITT - Cachoeira da Noruega - Óleo sobre tela - 1835

LOUIS GURLITT - Paisagem italiana com casas e oliveiras
Óleo sobre tela - 43 x 58

LOUIS GURLITT - Paisagem em Silkeborg - Óleo sobre tela - 31,5 x 46 - 1833

Precoce nos desenhos e descoberto pelo olhar atento de Gensler, Gurlitt foi encaminhado para os estúdios de Siegfried Detlev Bendixen, onde ficou entre os anos de 1828 e 1832. Após os aprendizados básicos ali, foi encaminhado para a Academia Real Dinamarquesa de Belas Artes, onde passou dois anos sob os ensinamentos de Christoffer Wilhelm Eckersberg e Johan Ludwig Gebhard Lund, quem desenvolveram em Gurlitt o gosto pela pintura de paisagens. A Dinamarca, aliás, sempre deu ao mundo vários artistas nessa temática. O século XIX teria muitos paisagistas dinamarqueses famosos.

LOUIS GURLITT - Colinas da Albânia- Óleo sobre tela - 83,5 x 107 - 1850

LOUIS GURLITT - Estudo da Pedra George, Sorrento
Óleo sobre papel colado em tela -39,6 x 25,6 - 1843

Do ponto de vista pessoal, Gurlitt teria uma vida conturbada, à partir da segunda metade da década de 1830. Em 1837, ele casou-se com Elise Saxild, mas perdeu a esposa precocemente, com incompletos dois anos de matrimônio. Então, casou-se novamente, em 1839, com Julie Bürger, com quem teve inclusive um filho. Mas, ela também faleceu poucos anos depois, em 1844. Inconformado, encontrou auxílio de amigos e parentes e se restabeleceu, conhecendo uma nova jovem e se casando com ela, em 1847. Os anos de paz retornaram a sua vida e Gurlitt finalmente se refugiou em Berlim, a partir daí. Ele teria sete filhos desse último casamento.

LOUIS GURLITT - Paisagem da Noruega - Óleo sobre tela - 75,5 x 89 - 1836

LOUIS GURLITT - Paisagem em SeEufer
Óleo sobre tela - 33,5 X 51,3 - 1866

LOUIS GURLITT - Uma vista de Capri - Óleo sobre tela - 1844

Gurlitt passaria temporadas entre a Áustria e a Alemanha, fazendo o que mais gostava: estudos de paisagens, seja ao ar livre ou em seus estúdios. Começou a conquistar gradativamente um público especializado, tendo inclusive algumas de suas obras adquiridas pela coleção real. Mesmo nos anos mais difíceis de sua vida, não desistia de sua pintura. Em 1842, no auge dos seus problemas pessoais, e tendo o país envolto por um profundo clima de guerra, ele ainda encontrou tempo para ir estudar um pouco mais com mestres que admirava, passando uma temporada em Düsseldorf, nos estúdios de Andreas Achenbach e Carl Ferdinand Sohn. Anos mais tarde, sob a indicação desses artistas, viajou por quase todos os países europeus, sempre pintando o que o via de mais agradável. Assumidamente, a Itália tinha as suas paisagens preferidas. Gostava da luz que não via no resto do continente, e das cores e volumes que só encontrava ali.

LOUIS GURLITT - Vista da Baía de Palermo - Óleo sobre tela - 58 x 87

LOUIS GURLITT - Velhas árvores em Holstein
Óleo sobre papel montado em painel - 25,9 x 35,9

LOUIS GURLITT - Paisagem italiana - Óleo sobre tela - 62 x 76 - 1846

A partir de 1851, Gurlitt viveu um bom período em Viena, e participaria de várias exposições por lá, em especial a Wiener Kunstverein, que lhe abriu novas portas. Desde 1832, ele era o presidente da Associação de Artes de Hamburgo, cargo que ocupou até 1855. A convite do Duque de Gotha, Ernst II, Gurlitt montou um estúdio no Castelo Mönchshof, em 1860. Foram quatorze anos trabalhando ali, propiciando um dos períodos mais criativos e produtivos de sua vida, sempre alternando saídas a campo e períodos introspectivos em seu ateliê. Logo que deixou o local, morou também um tempo em Dresden e Plauen, até se estabelecer definitivamente em Berlim.

LOUIS GURLITT - Uma vila nas montanhas - Óleo sobre papel montado em tela - 27,9 x 39,2

LOUIS GURLITT - Paisagem no Tirol
Óleo sobre tela - 38 x 53 - 1838

LOUIS GURLITT - Vista do Lago Albufera - Óleo sobre tela -

Do ponto de vista técnico, os trabalhos de Gurlitt sempre tiveram uma pincelada espontânea, como o prenúncio para influências impressionistas, que aconteceriam décadas mais tarde. Ele gostava de captar as luzes e formas, sem um compromisso muito realístico, quando saía para trabalhos de campo. Depois, em seu estúdio, as obras ganhavam mais detalhes, sem no entanto, perderem o clima captado em plein air. Passou a vida fazendo o que mais gostava e admirava de ter conquistado tudo isso com muito esforço e dedicação. Seus irmãos também se tornaram vencedores em suas carreiras e os filhos de Gurlitt também se tornaram notáveis em suas profissões.
Louis Gurlitt faleceu em Naundorf, a 19 de novembro de 1897.

Louis Gurlitt, num monograma de sua época.

GENNADIY KIRICHENKO

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GENNADIY KIRICHENKO - O antigo leito do Donets - Óleo sobre tela - 50 x 95

GENNADIY KIRICHENKO - Paisagem com vacas- Óleo sobre tela - 60 x 100

É muito gratificante, ver a arte realista voltando à cena dos mercados de arte e os diversos artistas contemporâneos dessa modalidade serem valorizados com seus trabalhos. As décadas pós-guerra do século passado viram uma efervescência da arte moderna, concretista e em especial a não figurativa. As grandes galerias e casas de leilões quem ditavam as normas e definiam qual artista deveria vir a cena. Os anos finais da década de 1990 permitiram o surgir da internet e com esse advento, o cenário artístico sofreu uma grande transformação. A partir daí, foi permitido ao próprio artista estar em contato direto com o grande público, sem a necessidade do atravessador que antes o promovia. Muitos artistas que ainda produziam arte figurativa, em especial arte realista, e que já não tinham mais espaço nas casas oficiais de venda de arte, encontraram na rede mundial de comunicação um aliado sem par. Não é de estranhar, que nesses primeiros anos desse novo século, vários artistas realistas voltaram a realizar boas vendas, sendo inclusive novamente resgatados pelas casas de arte que antes os rejeitavam. Gennadiy Kirichenko se encaixa nesse perfil de artista, prestigiado por essa nova oportunidade.

GENNADIY KIRICHENKO - Árvores no outono - Óleo sobre tela - 100 x 160

GENNADIY KIRICHENKO - Manhã no rio - Óleo sobre tela - 60 x 80

Gennadiy Kirichenko nasceu a 16 de maio de 1968, em Lugansk, na Ucrânia. Vindo de uma família simples, seu pai era motorista e a mãe uma confeiteira, que sempre ajudou nas despesas da família. Sempre interessado pela arte desde novo, Kirichenko se mostrou bastante criativo, mesmo com os poucos recursos no seu início de estudos. Brincava com os lápis e se divertia com os primeiros experimentos de aquarela, a técnica alternativa que lhe permitiu experimentar novos efeitos em seus desenhos.

GENNADIY KIRICHENKO - Beira-mar, Alupka - Óleo sobre tela - 55 x 85

GENNADIY KIRICHENKO - Uma curva de rio - Óleo sobre tela - 55 x 90

Durante um passeio de fim de semana, em um parque de sua cidade, viu artistas trabalhando em plein air, e se impressionou com a capacidade de tinham de registrar em seus apontamentos, com tamanha precisão, os vários detalhes daquilo que viam. Não saiu de sua memória, as cascas de árvores retratadas fielmente por alguns deles. Enquanto muitos pais encaminhavam seus filhos para colônias de férias recreativas, Kirichenko gostava que eles o permitissem aproveitar os momentos de folgas escolares em pequenos cursos de arte, que surgiam nessas ocasiões. Esses foram seus primeiros ensinamentos oficiais na arte.

GENNADIY KIRICHENKO - Natureza morta com cerejas- Óleo sobre tela - 75 x 95

GENNADIY KIRICHENKO - Um bouquet de lilazes- Óleo sobre tela - 95 x 100

GENNADIY KIRICHENKO - Peônias no jardim - Óleo sobre tela - 70 x 100

Não conformado com os limites que os ensinos regionais lhe permitiam, Kirichenko foi buscar mais respostas para suas dúvidas e elas vieram primeiro pela Voroshilovgrad Art School, onde permaneceu entre os anos de 1983 e 1987. O serviço militar obrigatório o manteria afastado dessa sua proposta pelos próximos dois anos de sua vida. Assim que prestou esses serviços, tentou entrar no Instituto Têxtil de Kosygin, em Moscou, onde pretendia se tornar um designer. Infelizmente ele não conseguiu.

GENNADIY KIRICHENKO - Clareira - Óleo sobre tela - 60 x 80

GENNADIY KIRICHENKO - Dia de primavera - Óleo sobre tela - 75 x 100

A década de 1990 foi especialmente difícil para as repúblicas soviéticas. A dissolução do mundo socialista, com a queda do Muro de Berlim, em 1991, afetou todos os países do leste. Não era diferente na Ucrânia. O empobrecimento das repúblicas que compunham a União Soviética se agravou ainda mais, até que em dezembro de 1991, a separação de todas as repúblicas tornou-se inevitável. Kirichenko se via lançado no mercado de trabalho exatamente nessa época. Para sobreviver, fazia trabalhos temporários para algumas agências e chegou mesmo a trabalhar como mineiro. Mas, em todos os momentos livres que possuía, lá estava ele a se exercitar com seus pincéis.

GENNADIY KIRICHENKO - Manhã de junho- Óleo sobre tela - 60 x 80

GENNADIY KIRICHENKO - Na costa de Aydar - Óleo sobre tela - 60 x 80

Em 1996, ele tornou-se membro da União Criativa dos Artesãos de Lugansk. Aquela parceria começou a divulgar o seu trabalho, que o auxiliou e muito, principalmente quando ficou desempregado. Kirichenko tinha um foco e não abria mão dele: especializar cada vez mais na arte realista. Começou a praticar em plein air e isso foi um novo impulso a continuar em sua proposta. Estava cada vez mais convencido de que era preciso dominar a sua paleta, ser preciso nas composições tonais e dar ao seu trabalho a coesão e o domínio de que eram necessários para alçar voos em uma carreira mais abrangente.

GENNADIY KIRICHENKO - Paisagem com rio - Óleo sobre tela - 60 x 80


A parceria com duas importantes instituições, a Creative Artists Union of Russia e a International Federation of Artists abriram ainda mais as suas portas. No ano de 2006, ele firmou contratos com duas importantes galerias divulgadoras da arte russa no ocidente, a Gallery Globe, de Kiev e a Gallery Russia, com serviços nos Estados Unidos. Mas, é a divulgação via internet, de um público cada vez mais diversificado, que tem permitido o conhecimento de seu trabalho em diversas partes do mundo.


PARA SABER MAIS:



CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA

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CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Gran via, Madri - Óleo sobre linho - 65 x 100

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Madri- Óleo sobre linho

Um dos grandes desafios do artista realista contemporâneo é ser realista sem ser excessivamente detalhista. Os novos tempos conclamam por um realismo mais solto, que ainda crie um clima bem natural nas representações, e que permita também o uso de pinceladas audaciosas e paletas com interpretações individualizadas. Assim como muitos artistas dessa geração, Cristóbal Pérez García vem defendendo a pintura realista e nos mostrando que essa vertente artística está mais viva do que nunca. Ele mesmo prefere não se preocupar com rótulos. Faz sua arte, e a ama como tem feito.

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Nos arredores da cidade - Óleo sobre linho

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Estação - Óleo sobre linho

Cristóbal Pérez García nasceu no dia 14 de agosto de 1976, na cidade de Álora, província espanhola de Málaga. Ele se formou em pintura e escultura em Granada, pela Universidade de Málaga, e também completou seus estudos em dois anos muito bem aproveitados como bolsista na Inglaterra e na Itália. Morando atualmente em Murcia, conquistou respeito, popularidade e um público colecionista fiel, graças aos mais de 150 prêmios e títulos que foi colecionando em sua trajetória.

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Bairro de Chelsea, Londres- Óleo sobre linho - 40 x 120

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Antiga Madri
Óleo sobre linho

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Bairro da Santa Maria da Graça - Óleo sobre linho - 89 x 116

Toval, como gosta de assinar em suas pinturas, tem uma preocupação constante na elaboração de seus trabalhos: quer que eles contem uma história e acima de tudo, emocionem a quem possa emprestar um tempo para observá-los. Ele usa e abusa de texturas, respingos, impastos e efeitos diversos, para conseguir o objetivo que tanto deseja. O resultado é uma obra aparentemente simples, mas que causa um forte impacto visual. Cores vibrantes e muito bem dosadas, também criam todo o clima proposto para suas criações.

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Em obras - Óleo sobre linho

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Pescadores na Praia do Conde - Óleo sobre linho - 91 x 122

Dois temas fazem parte constantemente do repertório desse artista: a paisagem urbana e a água. Como ele mesmo gosta de afirmar, o homem se tornou sociável pela necessidade de ficar próximo aos leitos de água e daí surgiram as primeiras civilizações. É praticamente impossível tirar esses dois elementos de suas propostas. Sempre que compõe uma cena urbana, com ou sem figuras humanas, Toval pensa em seus habitantes e tudo que aquilo representado em seu trabalho possa significar a eles. Que história se esconde atrás de cada elemento, os dramas vividos sob cada telhado e os mistérios escondidos em cada esquina... Ele gosta das cenas urbanas com todos os seus elementos, semáforos, carros, pessoas caminhando em todas as direções, sob iluminação dramática ou simples. A rua é o seu melhor estúdio e ele se sente bem ali. E quando os olhos se deixam inspirar pela água, a preocupação é a mesma: observa seu ritmo e deixa que o trabalho aconteça.

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Um balcão no caminho da igreja
Óleo sobre madeira - 146 x 146

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Primeiros dias da Torre da Liberdade
Óleo sobre linho - 81 x 100

Diferentemente do artista convencional, Toval vai pintar em plein air com telas de grandes formatos. Sua habilidade em trabalhar com grandes áreas, num espaço pequeno de tempo, é graças ao uso de materiais alternativos como grandes espátulas e trinchas. São essas saídas que o tornaram famoso em muitos lugares por onde trabalha. Colocar um cavalete em plena Gran Via, em Madri, e realizar um grande trabalho em apenas duas horas tornou-se uma atividade corriqueira para ele. Assim também faz em Nova York, Veneza e Londres.

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Arrebentação - Óleo sobre linho - 147 x 147

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Jardim
Óleo sobre linho - 89 x 116

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Vista da cidade - Óleo sobre linho

Na visão de Toval, todo artista pode ter algo a contribuir. Ele se esforça em fazer a sua parte. Para ele, os aprendizados na escola e os ensinamentos acolhidos na observação de cada trabalho de outro artista que encontra, não teriam o menor valor se estes não passassem pelo filtro da interpretação pessoal que forma o seu trabalho. As referências são importantes, mas é a visão própria que dará autenticidade e respeito pela sua proposta.

Se os tempos inspiram novos desafios, Toval é um artista que não tem medo deles.

CRISTÓBAL PÉREZ GARCÍA - Manhã em Boloña
Óleo sobre linho - 73 x 146


PARA SABER MAIS:



64º SALÃO DE BELAS ARTES DE PIRACICABA

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O ano de 1952 marca uma data especial na história da cidade paulista de Piracicaba. Realizava naquela época, a primeira edição do Salão de Belas Artes, que chega a esse ano com a sua 64ª edição. Mais do que ser reconhecido como uma das maiores referências na promoção artística e cultural da cidade, o Salão de Belas Artes de Piracicaba é hoje o mais importante evento dessa modalidade no Brasil. Mesmo nesse ano, com a crise econômica interrompendo essa atividade em muitas outras cidades do país, Piracicaba mostra sua determinação em realizar todas as atividades culturais que fazem parte de seu calendário. E o Salão de Belas Artes é uma de suas prioridades.





Desde o encerramento das atividades do Salão de Belas Artes de São Paulo, o Salão de Belas Artes de Piracicaba herdou o título de mais disputado salão de belas artes brasileiro, com inscrições de artistas de vários estados do país, representando as mais diversas manifestações artísticas. O SBA, como é mais conhecido o Salão de Belas Artes, é uma atividade realizada pela Secretaria Municipal da Ação Cultural.

 
Cerimoniais de abertura: Eduardo Borges de Araújo (Diretor da Pinacoteca) e
Rosângela Rizzolo Camolese (Secretária Municipal da Ação Cultural)

Para essa edição de 2016, foram inscritas 437 obras, de 142 artistas. Esses, representavam 53 cidades do Brasil, de 8 estados diferentes: São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná e Pernambuco. A primeira seletiva é feita através de fotos dos trabalhos. Cada artista pode enviar de 2 a 5 imagens. Os trabalhos selecionados através das fotos são então enviados para mais uma seleção, a seleção de corpo presente. Nessa segunda etapa, são então selecionados os trabalhos que comporão o salão, entre os quais alguns são ainda contemplados com prêmios honoríficos e prêmios aquisitivos.

Comissão de seleção e premiação:
Alexandre Reider, Blagojco Dimitrov, Claudio Canato, Ronaldo Boner e Marcus Claudio.

Uma comissão julgadora composta de cinco integrantes foi responsável pelos julgamentos na edição desse ano. São esses os integrantes: Alexandre Reider, Blagojco Dimitrov, Cláudio Canato, Ronaldo Boner e Marcus Cláudio. Todos eles, respeitados profissionais da arte, já de uma longa data. Segundo a própria comissão julgadora, “existe um movimento de renovação estética, que a cada edição torna-se pouco mais evidente, o que comprova que a arte figurativa vive em temos melhores.” É de constatação também da comissão julgadora, que “um número considerável de novos artistas vem se destacando e produzindo cada vez mais e melhor.”

Medalha de Ouro / Pintura:
JOSÉ ROSÁRIO - Velhas gameleiras - Óleo sobre tela - 63 x 154 - 2016

Medalha de Prata / Pintura:
CLODOALDO MARTINS - O jovem vendedor de frutas - 90 x 115 - 2016

Medalha de Bronze / Pintura:
DOUGLAS OKADA - Kimono turquesa - Óleo sobre tela - 80 x 60 - 2016

Mais uma vez, o número de obras com a temática Figura Humana tornou-se a temática principal na concorrência. “A excelência técnica tem sido um ponto marcante dessa nova geração de artistas”, como constatou também a comissão julgadora. Dos 97 trabalhos selecionados para a edição desse ano, 92 são quadros e 5, esculturas. As obras selecionadas ficarão expostas na Pinacoteca Municipal Miguel Dutra, entre os dias 5 de agosto e 11 de setembro, com entrada gratuita para todos aqueles que puderem apreciar.






Parabéns à Prefeitura Municipal de Piracicaba por oferecer uma oportunidade tão importante a vários artistas do país. O Salão de Belas Artes coloca a cidade num patamar diferenciado na promoção da arte brasileira. Também estão de parabéns toda a comissão organizadora do evento e toda a equipe de produção da Pinacoteca. Que os esforços envolvidos para a realização deste e de todos os salões anteriores cresçam ainda mais, e que o Salão de Belas Artes continue a ser um motivo de orgulho e também um patrimônio da cidade de Piracicaba.

RELAÇÃO DOS PRÊMIOS AQUISITIVOS:
Georg Mend – Prêmio Aquisitivo Prefeitura Municipal de Piracicaba, com a obra Almeida negaceando.
Alison de Sando Manzoni – Prêmio Aquisitivo Prefeitura Municipal de Piracicaba, com a obra A espera.
Agnelo Andrade – Prêmio Aquisitivo Prefeitura Municipal de Piracicaba, com a obra Rua José Bonifácio, Mogi das Cruzes.
Daniel Vizza Favali – Prêmio Aquisitivo Prefeitura Municipal de Piracicaba, com a obra Mariana, MG.
Jesser Valzacchi – Prêmio Aquisitivo Prefeitura Municipal de Piracicaba, com a obra Castelo de Introspecções.
José Rosário – Prêmio Aquisitivo Prefeitura Municipal de Piracicaba, com a obra Velhas gameleiras.
Marcos Sabadin – Prêmio Aquisitivo Prefeitura Municipal de Piracicaba, com a obra Retrato do Sr Romualdo.
Padilha – Prêmio Aquisitivo Câmara de Vereadores de Piracicaba, com a obra O pequeno artista.
Bruno Passos – Prêmio Aquisitivo Câmara de Vereadores de Piracicaba, com a obra (A) Deus a contragosto.

RELAÇÃO DOS PRÊMIOS HONORÍFICOS:
Medalha de Ouro / Pintura: José Rosário – Velhas gameleiras
Medalha de Prata / Pintura: Clodoaldo Martins – O vendedor de frutas
Medalha de Bronze / Pintura: Douglas Okada – Kimono turquesa
Medalha “Eugênio Luiz Losso”: Marcos Sabadin – Retrato do Sr Romualdo.
Menção Honrosa / Pintura: Paulo Tosta – Padrinho Nivaldo
Menção Honrosa / Pintura: Dulcídio Fernandes – Itaibezinho
Menção Honrosa / Pintura: Sérgio Farias – Comodities & Logística
Medalha de Prata / Desenho: Daniel Adami – Retrato de um idoso
Medalha de Bronze / Desenho: Gustavo Schossler – Celly
Medalha de Bronze / Aquarela: Daniel Vizza Favali – Mariana, MG
Menção Honrosa / Aquarela: Rita – Noturna
Menção Honrosa / Desenho: Alexander Greghi – Cético
Menção Honrosa / Desenho: Eduardo Busin Fernandes – O moleque
Menção Honrosa / Desenho: Marcos Sabadin – Sr de chapéu


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MAIS ALGUNS TRABALHOS DO SALÃO


ARI VICENTINI - Sonhando com Goya
Óleo sobre tela - 120 x 80

ADELAIDE LARVITSKA - Pescador - Óleo sobre tela - 50 x 70

ALISON DE SANDO MANZONI - A espera
Óleo sobre tela - 100 x 130
Prêmio Aquisitivo Prefeitura Municipal de Piracicaba

ANDRÉ MAURÍCIO - Companheiras
Óleo sobre tela - 135 x 75

DENISE STORER - No frescor da manhã
Óleo sobre tela - 70 x 100

ELOISA MENEZES COSTAL - Pierrot
Mármore - 40 x 30 x 40

JESSER VALZACCHI - Castelo de introspecções
Óleo sobre tela - 110 x 130
Prêmio Aquisitivo Prefeitura Municipal de Piracicaba

JOÃO BENATTI - Fazenda Morro Grande II
Óleo sobre tela - 100 x 120

MARCOS SABADIN - Retrato do Sr Romualdo
Óleo sobre tela - 70 x 50
Prêmio Aquisitivo Prefeitura Municipal de Piracicaba
Medalha "Eugênio Luiz Losso"

PADILHA - O pequeno artista
Óleo sobre tela - 100 x 80
Prêmio Aquisitivo Câmara de Vereadores de Piracicaba

REINALDO FRAGOSO - Volta pra mim
Óleo sobre tela - 90 x 100

ROGER VIANNA - Antigo engenho - Óleo sobre tela - 65 x 100

PAULO TOSTA - Padrinho Nivaldo
Óleo sobre tela - 40 x 30
Menção Honrosa

DULCÍDIO FERNANDES - Itabeizinho - Óleo sobre tela - 60 x 90
Menção Honrosa

RODRIGO ZANIBONI - Kaila
Óleo sobre tela - 53 x 41

PAULO DE CARVALHO - Petrópolis II
Óleo sobre tela - 40 x 40

GEORGE MEND - Almeida negaceando
Óleo sobre tela - 125 x 100
Prêmio Aquisitivo Prefeitura Municipal de
Piracicaba



EUGÈNE GIRARDET

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EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - O caminho diário - Óleo sobre tela

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - O retorno da tropa - Óleo sobre tela - 53,5 x 82

Toda a família de Eugène Girardet estava, em algum grau, envolvida com uma expressão artística qualquer. Facilitou muito para sua opção artística, que todos os seus tios, primos e cunhados estivessem envolvidos com gravura, litografia ou pintura. O que tornou mais do que natural que, logo bem cedo, ele também já estivesse com um pincel preso às mãos produzindo seus próprios trabalhos. Não só começou a produzir cedo, como também já comercializava suas obras quando ainda tinha dezessete anos. Mas, foram as aulas formais, na Escola de Belas Artes, sob a orientação com ninguém menos que Jean-Léon Gérôme, que deram um novo rumo à sua carreira que apenas começava.

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - O vendedor de frutas
Óleo sobre tela - 55 x 38

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - O vendedor de frutas (detalhe)

Eugène-Alexis Girardet nasceu em Paris, a 31 de maio de 1853. Felizardo, já nasceu numa Paris de plena transformação. As várias obras iniciadas pelo prefeito Haussmann, um ano antes de seu nascimento, já deixavam a cidade com um aspecto bem mais agradável. No lugar das estreitas e úmidas vias, surgiam largas avenidas e belos boulevards. A mudança do ambiente físico da cidade também inspirava uma procura por novas manifestações artísticas. Entre os vários movimentos que agitavam Paris, a procura pela temática oriental seduzia ainda uma grande parte dos colecionadores aficionados pelo exótico. Esse mesmo interesse foi despertado em Giradet, mais tarde, em seus estudos com Gérôme. Assim, em 1874, ele já realizava sua primeira expedição à procura de temas inovadores. Decisão que mudaria para sempre sua vida.

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - A visita do Sheik
Óleo sobre tela

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - A passagem- Óleo sobre tela - 102 x 82,5

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - No mercado
Óleo sobre tela

Em sua passagem pela Espanha e por Marrocos, ao norte da África, logo naquele ano de 1874, as paisagens já lhe inspiravam novas composições. Os costumes das novas culturas que visitava também lhe atraíam cada vez mais, mesmo que as suas primeiras obras ainda mantivessem uma certa reserva quanto ao inusitado, presas aos ensinamentos acadêmicos e às lições absorvidas em Paris. Fato que foi logo resolvido, quando a adição de vermelhos terrosos brilhantes, e azuis e verdes intensos das indumentárias que via, trataram logo de mudar radicalmente sua paleta. Sua obra ganha, à partir daí, um caráter realista totalmente em consonância com a vida humilde e severa das populações que visitava. Não é exagero afirmar que Girardet se deixou enfeitiçar pelas cores e texturas das roupas norte africanas, e isso mudaria totalmente sua carreira.

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - A caravana
Óleo sobre tela - 60 x 81

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - Quintal- Óleo sobre tela

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - Deixando o mercado
Óleo sobre tela - 68 x 109,1

Ainda mais marcante, seriam as suas novas expedições ao norte da África, que faria no final da década de 1870 e início de 1880. Uma passagem pela Argélia e Tunísia, em meados da década, deixaria o artista um pouco frustrado, pois imaginava uma região bucólica, com cenas romantizadas por personagens e palmeiras descansando ao sol. Mas, já encontrou uma região com grandes mudanças modernistas para sua época. Para encontrar aquilo que habitava seu imaginário, ele desceu mais além no continente, até as margens ao sul do Saara, em Al Kantarra e Bou-Saada. Foi o encontro com Etienne Dinet, um outro artista francês já radicado por ali, que o levou ao encontro da África que tanto idealizava.

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - Atravessando o rio
Óleo sobre tela

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - Beduínos no deserto - Óleo sobre tela

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET
Nas terras altas, após a tempestade
Óleo sobre tela - 100 x 145 - 1903

Etienne Dinet é uma figura-chave na pintura orientalista francesa. Ele explorou uma região que não era muito atraente para as grandes caravanas que saíam da Europa e também converteu ao Islamismo, depois de muitos anos convivendo com comunidades mulçumanas da Argélia. Seu trabalho é acima de tudo sincero, e isso marcou demais na influência que teve sobre Girardet. A partir do encontro com Dinet, Girardet passa a capturar suas imagens com ainda mais precisão, enfatizando o que realmente via e não o que idealizava pelas referências acadêmicas de escola. Pode-se dizer que ele passou a produzir num estilo naturalista solto, sem amarras.

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET
Camelos em um oásis ao alvorecer
Óleo sobre tela - 30,8 x 44,8 - 1879

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - Caravana árabe atravessando o riacho
Óleo sobre tela - 50,8 x 100,3

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - Labor no Marrocos
Óleo sobre tela - 39 x 70

Num retorno a Paris, em 1877, Girardet e mais outros treze artistas acabam por criar a Sociedade dos Pintores Orientalistas Franceses, que incluía membros como o Próprio Dinet, Paul Leroy e Arthur Chassériau. Membros como Jean-Léon Gérôme e Benjamin-Constant foram incluídos como presidentes honorários. Foi na sede da sociedade que Girardet faria suas principais exposições, divulgando tudo aquilo que produzia pelas idas à África. Entre 1878 e 1880, também mostrou seus trabalhos no famoso Salão de Paris. Em 1890, ele se associou à Sociedade Nacional de Belas Artes, um grupo dissidente que mostrava seus trabalhos, paralelo ao salão.

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - O acampamento
Óleo sobre tela

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - O acampamento - Óleo sobre tela - 50,8 x 91,4

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - Rua de El Kanthara, Argélia
Óleo sobre tela

Os trabalhos de Girardet também começavam a ser apreciados por colecionadores de diversos outros países. Ele mostrou suas obras em Londres, Genebra, Munique e Berlim e também participou da Exposição Colonial, realizada em Marselha, em 1906. Embora temas ainda mais exóticos, como os da Polinésia Francesa e cenas do Camboja, atraíam a atenção dos colecionadores, Girardet continuava fiel às suas propostas, viajando para as regiões do norte da África e Oriente Médio, nos anos finais do século XIX.

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - Emendando
Óleo sobre tela - 46,3 x 55,2 - 1896

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - Oradores do deserto - Óleo sobre tela - 67 X 108

EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - O almeh
Óleo sobre tela - 66 x 92,2

Em 1898, ele viajou para o Egito e atingiu até a Palestina, locais onde fez numerosas cenas do Cairo e de Jerusalém. Pode-se dizer que os trabalhos dessa época tiveram uma mudança significativa no estilo, tendo uma forte influência dos Impressionistas. As pinceladas tornaram mais soltas e há uma preocupação natural com os fortes efeitos de luz. Um de seus trabalhos mais charmosos dessa época, não é, no entanto, uma cena orientalista, mas uma cena que produziu pintando em um prado francês, alguns anos antes. Ele se retrata na companhia de uma jovem artista, provavelmente mais uma artista da família.
O artista faleceu no dia 31 de outubro de 1907.


EUGÈNE-ALEXIS GIRARDET - Souvenir de l'ete - Óleo sobre tela - 26,5 x 41,5 - 1894

WILLIAM BOUGUEREAU - Parte 1

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WILLIAM BOUGUEREAU - As laranjas (detalhe)

WILLIAM BOUGUEREAU - As laranjas - Óleo sobre tela - 117 x 90 - 1865

Há uma vasta literatura sobre William Bouguereau, tanto impressa quanto virtual. Um dos mais competentes artistas de todos os tempos, também é um dos mais polêmicos; que tem um número cada vez maior de admiradores e seguidores e que no passado também foi um dos artistas mais injustiçados da história. Esquecido após sua morte, por causa da crítica impiedosa e implacável de seus opositores, William Bouguereau ficou quase sete décadas no anonimato, vindo a ressurgir com toda força na década de 70 do século passado. Confirmando aquela máxima de que “ninguém morre, enquanto for lembrado”, Bouguereau voltou a cena artística da maneira mais honrosa possível: respeitado pela nova corrente realista acadêmica de todo o mundo, que viu nele a referência máxima do ideal artístico, especialmente a nível técnico.

WILLIAM BOUGUEREAU - A abdução de Psiqué
Óleo sobre tela - 209 x 120 - 1895

WILLIAM BOUGUEREAU - A juventude de Baco - Óleo sobre tela - 331 x 610 - 1884

Bouguereau teve o privilégio de viver num período onde o academicismo estava em alta e acabou se tornando um dos maiores defensores dessa corrente de ensino. Essa, aliás, talvez tenha sido também a causa maior da perseguição que teve por parte dos modernistas que emergiam no final do século XIX. Também o fato de ter agradado a grande classe colecionista e aristocrática de seu tempo, possa ter feito dele um alvo de inveja por parte de artistas e críticos. Muitos jornais e periódicos do início do século XX chegaram a classificar Bouguereau como o modelo do artista que deve ser evitado, por fazer um trabalho vazio e artificial. Isso se tornou uma cruz pesada no final de sua vida, mas nunca abalou os propósitos de sua arte. Bouguereau sabia nitidamente aquilo que queria fazer e o fez até os seus últimos dias. Mesmo nos tempos atuais, há um público muito dividido com relação aos seus trabalhos.

WILLIAM BOUGUEREAU
Cupido e Psiqué como crianças
Óleo sobre tela - 200 x 116 - 1889

WILLIAM BOUGUEREAU - Lamour piqué
Óleo sobre tela - 116,5 x 62,5 - 1894

William-Adolphe Bouguereau nasceu na cidade (comuna) francesa de La Rochelle, a 30 de novembro de 1825, filho do casal Théodore Bouguereau e Marguérite Bronnin. Comerciantes, mudaram para Saint-Martin, quando William Bouguereau tinha apenas 7 anos, para começarem uma nova vida nos negócios. Mas não vieram para a cidade num período muito próspero e acabaram atravessando um momento muito difícil. As coisas se agravaram a tal ponto, que William foi encaminhado para viver com o tio Eugène Bouguereau, um membro de melhores posses na família. A sorte não podia ter sorrido de maneira melhor para o pequeno artista. Eugène tinha uma rica cultura, alicerçada principalmente nas referências clássicas, na literatura francesa e no ensino religioso. O mesmo tio que possibilitava e exigia do sobrinho aprender latim, também era o mesmo que cobrava rigores em aprendizados como caça, equitação e gosto por temas ecológicos.

WILLIAM BOUGUEREAU - Contemplando a criança- Óleo sobre tela - 76,2 x 95,2 - 1871

WILLIAM BOUGUEREAU - Distração - Óleo sobre tela - 61 x 50,2 - 1868

Localizada na região administrativa de Poitou-Charentes, Pons é uma cidade (comuna) francesa localizada no departamento de Charente-Maritime. Naquela época, possuía uma escola de referência em todo o país, e é para onde William foi enviado pelo dedicado tio, no ano de 1839. Numa instituição religiosa austera, a intenção do tio era que o sobrinho aprofundasse ainda com mais critério nos conhecimentos clássicos. Ali, William aprendeu praticamente de tudo disponível até aquele momento sobre o mundo antigo, desde a Mitologia Grega à história de todos os continentes, passando pelos mais renomados poetas da antiguidade, como Ovídio e Virgílio. Simultaneamente, fazia aulas de desenho com Louis Sage, um antigo aluno do neoclassicista Ingres.


WILLIAM BOUGUEREAU - Convoitise
Óleo sobre tela - 65,4 x 44,1

WILLIAM BOUGUEREAU - Adormecendo - Óleo sobre tela - 61,6 x 51,4

A família de William Bouguereau recuperou-se do mau momento financeiro e o filho voltou a morar com o casal em 1841. Eles foram inclusive, tentar novos negócios em Bordeaux. Mesmo que dedicasse bastante para seguir o ramo do pai, os desenhos que William fazia em seus intervalos atraíam imensamente a atenção dos clientes da família. Foi pela insistência desses, que o pai de William o matriculou na Escola Municipal de Desenho e Pintura, sob os cuidados de Jean-Paul Alaux. Os avanços foram tão rápidos, que já em 1844, o iniciante artista recebe seu primeiro Prêmio em Pintura. Na procura por ajudar os negócios da família, William ainda elaborava rótulos para produtos alimentícios.

WILLIAM BOUGUEREAU - Ninfas e sátiro
Óleo sobre tela - 260 x 180 - 1873

WILLIAM BOUGUEREAU - Le livre d'heures
Óleo sobre tela - 66 x 53,3 - 1867

Em 1846, acontece um passo decisivo na carreira de William. Por uma recomendação de seu mestre Alaux e mediante as economias feitas com a produção de retratos na cidade onde morava, ele é admitido na Escola de Belas Artes de Paris, instituição que se tornaria um marco em sua vida. Foi com François-Édouard Picot que William se aperfeiçoou no método acadêmico e nunca desvencilharia dele. A dedicação e o envolvimento era tão intenso, que o jovem aluno chegava a pintar e desenhar por cerca de vinte horas por dia e mal se alimentava. Não bastassem os ensinamentos próprios de seus estudos, assistia a dissecações de cadáveres para se aprimorar no desenho anatômico e também fazia Arqueologia e História. O resultado já se fazia evidente em seus trabalhos, que mesmo em início de carreira, já se mostravam completamente bem acabados e resolvidos. Um fato inédito aconteceu nessa época, quando ele, iniciante em salões, dividiu o primeiro prêmio com Gustave Boulanger, o Prêmio de Roma, nome dado ao prêmio máximo entregue pelo Salão de Paris e o mais cobiçado daquela época. Uma espécie de oscar da pintura naqueles tempos. Dois anos depois, ele venceria o prêmio mais uma vez. Os caminhos já estavam mais que solidificados para o artista.

WILLIAM BOUGUEREAU - Blessures d'amour
Óleo sobre tela - 191,8 x 114,3 - 1897

WILLIAM BOUGUEREAU - Depois do banho
Óleo sobre tela - 178 x 88,5 - 1875

Mas, William Bouguereau sentia uma vontade de aprendizado que não cessava. Ele monta um estúdio na Villa Medici, em Roma, e mais uma vez se põe a estudar e aprender. Agora, com os mestres do renascimento italiano. Ele teve orientações de Victor Scnetz e Jean Alaux nessa sua nova fase. Rafael tornou-se a referência mais admirada por Bouguereau. Ele não só gostava de tudo que ele havia produzido, como o achava um dos mais originais artistas do renascimento italiano. Giotto foi outro artista italiano que muito inspirou Bouguereau, chegando a reproduzir todos os seus afrescos contidos na Basílica de Assis. Muitos artistas já consagrados elogiavam e referenciavam Bouguereau e suas obras. Ele já era agora um artista de respeito e bastante procurado.

WILLIAM BOUGUEREAU - A lição
Óleo sobre tela - 116,8 x 80,6 - 1895

WILLIAM BOUGUEREAU - Admiração maternal
Óleo sobre tela - 116,8 x 90,8

Com a vida profissional em avanço contínuo, Bouguereau casa-se com Marie-Nelly Monchablon, no ano de 1856. Eles teriam cinco filhos e Bouguereau perderia quatro deles, ao longo de sua vida. Começava ali uma de suas décadas mais promissoras, com obras que praticamente o consagrariam com uma das maiores revelações de sua época. Pintou retratos para o imperador e sua família, decorou espaços públicos e produziu vários trabalhos no estúdio. Se até então, seus trabalhos eram evidenciados pela produção histórica e religiosa, a década de 1860 viria nascer um Bouguereau diferenciado, que atendia ao gosto do público requintado e culto de Paris. Sua paleta ganha novas cores e o nível técnico de seu trabalho atinge o ápice.

WILLIAM BOUGUEREAU - Homero e o seu guia
Óleo sobre tela - 209 x 143 - 1874

WILLIAM BOUGUEREAU - Menina com uma romã
Óleo sobre tela - 56,9 x 45,7 - 1875

De relacionamento fácil no meio artístico, Bouguereau estabelece fortes laços de amizade com Jean-Marie Fortuné Durand e seu filho Paul Durand-Ruel. Conhecidos marchands na cidade, apresentam a ele Adolphe Goupil, mais um comerciante das artes que sabia os caminhos das grandes coleções particulares. Bouguereau passa a participar efetivamente dos salões que aconteciam na capital francesa e a colecionar títulos em sequência. Sua fama não se restringia somente à França. Da Inglaterra, viriam várias encomendas importantes. O momento econômico favorável permitiu que ele comprasse uma mansão em Montparnasse.

WILLIAM BOUGUEREAU - Moissonneuse
Óleo sobre tela - 106,5 x 85 - 1868

WILLIAM BOUGUEREAU - Todos os santos- Óleo sobre tela - 61 x 50,8

A Guerra entre a França e a Prússia, em 1870, mudaria um pouco a rotina de Bouguereau. Ele deixa a família em Londres, onde passavam férias e retorna a Paris, para ajudar na defesa de barricadas, mesmo já sendo isento do serviço militar, devido a sua idade. Findo o período de batalhas entre os dois países, volta suas atividades, decorando catedrais e realizando vários retratos. Sua vida intercalava momentos de muita alegria e reputação, com momentos tristes, com a perda de entes queridos. As aulas na Academia Julian, iniciadas nessa mesma época, eram um alento para o período.

WILLIAM BOUGUEREAU - Frère et souer
Óleo sobre tela - 180,5 x 81,2 - 1887

WILLIAM BOUGUEREAU - O caranguejo
Óleo sobre tela - 81,3 x 65,4 - 1869

Um dos períodos mais tristes da vida particular do artista aconteceria em 1877, quando falecem sua esposa e, dois meses depois, um de seus filhos. Como que por compensação, o artista se isola ainda mais em seu trabalho, produzindo a partir dali, as suas obras maiores e mais ambiciosas. Em 1878, a grande medalha de honra, na Exposição Universal o coroava ainda mais no meio artístico. Em 1879, William fica noivo de Elizabeth Gardner, com quem só viria a casar em 1896, pois a família não era muito conivente com a união.

WILLIAM BOUGUEREAU - Na praia
Óleo sobre tela - 95,9 x 61,6 - 1903

WILLIAM BOUGUEREAU - Pescando
Óleo sobre tela - 137,2 x 106,7 - 1882

Enquanto na década de 1880, sua carreira chegava ao auge, produzindo grandes encomendas e realizando obras importantes, recebendo inclusive o Prêmio de Comendador da Ordem Nacional da Legião de Honra, começava também o embate com grupos pré-modernistas. Como era presidente da Sociedade dos Artistas Franceses, a mesma que organizava e administrava os salões, William tinha opiniões bastante rigorosas quanto a seleção e exposição das obras em cada evento. As discussões ficaram cada vez mais sérias, a ponto de em 1889, um grupo liderado por Ernest Meissonier criar a Sociedade Nacional das Belas Artes, que passou a realizar um salão dissidente. Isso começou a afetar bastante a imagem de Bouguereau junto ao meio artístico francês. Se por um lado, as coisas não iam bem “em casa”, o mesmo não podia se dizer do seu reconhecimento fora, onde era homenageado na Alemanha e na Inglaterra.

WILLIAM BOUGUEREAU - O lanche da manhã
Óleo sobre tela - 90,8 x 55,9 - 1887

WILLIAM BOUGUEREAU - A onda - Óleo sobre tela - 121 x 160,5 - 1896

Golpe maior aconteceria em 1900, quando morre o quarto filho de Bouguereau, Paul. A partir daquele momento, William já não teria mais uma saúde estável e em 1902, um problema cardíaco o deixaria ainda mais debilitado. Momentos de reconhecimento e de alegria viriam com a aclamação de sua obra enviada à Feira Mundial, principalmente com o título que faltava em sua vida: Grande-Oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra, em 1903. Bouguereau ainda teria tempo para as celebrações do centenário da Villa Medici, em Roma e uma rápida viagem a Florença. Muitos convites para homenagens e condecorações vinham de várias cidades da Europa, mas a sua saúde já não permitia mais tantas viagens. Com a saúde cada vez mais precária, já não consegue nem mais pintar, nos meses finais de 1904. Pressentindo sua morte iminente, ele se refugia onde começou sua vida, em La Rochelle, mudando-se para lá em julho de 1905. Ali, morreria no mês seguinte, dia 19 de agosto.

WILLIAM BOUGUEREAU - Autorretrato
Óleo sobre tela - 46 x 38 - Coleção particular - 1879

WILLIAM BOUGUEREAU - Parte 2

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WILLIAM BOUGUEREAU - Admiração- Óleo sobre tela - 147 x 200 - 1897

WILLIAM BOUGUEREAU - Mulher de Cervara e sua criança
Óleo sobre tela - 109,2 x 83,2 - 1861

Ao longo da História da Arte, é de praxe que estilos e movimentos se alternem como gostos populares. É normal que artistas se tornem as “estrelas da vez” e conquistem fama e prestígio imensuráveis. Evidentemente, isso nem sempre acontece da maneira mais amigável possível, porque na Arte, como em nenhum outro lugar, os egos se inflamam de uma maneira desproporcional. Quem está no domínio do cenário não quer perder as rédeas e quem está para assumir o espaço, faz o impossível para conquista-lo. Os anos finais do século XIX testemunharam uma das batalhas mais ferrenhas que já aconteceram no campo das artes. A França foi o palco de toda essa controvérsia, uma vez que estava à frente dos acontecimentos culturais da Europa. O Academicismo, que dominava a cena no momento, se viu açoitado, humilhado e vencido pelas correntes modernistas, que jogaram com todas as cartas que podiam e não pouparam ninguém. William Bouguereau, o grande defensor do ensino acadêmico e o nome de destaque daquela época, serviu como uma espécie de bode expiatório para essa batalha. Batalha que lhe custou a glória e os méritos, conquistados por toda uma vida dedicada ao que mais gostava de fazer.

WILLIAM BOUGUEREAU - A primeira discórdia, Caim e Abel
Óleo sobre tela - 196,2 x 150,5 - 1861

WILLIAM BOUGUEREAU - Biblis - Óleo sobre tela - 50 x 80,5 - 1884

Mas, o que realmente aconteceu para que as coisas chegassem a tal ponto? Como pode, alguém que era considerado o mais competente artista vivo de seu tempo, se transformar no mais desprezível artista do momento, a ponto de ter seu nome apagado de todas as futuras enciclopédias e livros? O que leva um artista do nível de Bouguereau, ter seus quadros escondidos nos depósitos de museus durante décadas? Por que, de uma hora para outra, aquele que era a referência maior do ideal artístico, se tornara a referência do que deveria ser evitado? Para responder a essas perguntas e ser imparcial com os resultados das respostas que sucederam àquele triste período, é preciso conhecer um pouco mais como tudo se passava naquela época, principalmente com Bouguereau, o mais prejudicado com tudo aquilo acontecido naquele período.

WILLIAM BOUGUEREAU
A flagelação de Nosso Senhor Jesus Cristo
Óleo sobre tela - 309 x 210 - 1880

WILLIAM BOUGUEREAU - Pietá
Óleo sobre tela -222,9 x 149,2 - 1876

William Bouguereau se adequou com todas as forças possíveis para aquilo que sonhou um dia para sua arte, tornar-se um verdadeiro artista acadêmico. Mas, o que vem a ser Academicismo e o que isso trouxe para o cenário artístico mundial? Academismo é um método de ensino nascido no século XVI, fruto maior das ideias renascentistas. Em meados do século XIX, essa corrente de pensamento chegou a obter uma influência dominante. As academias davam grande valor ao que foi experimentado e consolidado pelos antigos mestres, realçando ainda mais os ensinamentos deles baseados na tradição clássica. Além de ter um caráter estético, havia também uma ética, através da qual era traçada toda a proposta pedagógica de quem se propunha a tornar um acadêmico. Um dos objetivos maiores idealizados na tradição acadêmica, é que a arte educasse o público; não só apenas os artistas que a praticavam; mas também a todos aqueles que a admirassem de alguma forma. E que essa educação proposta, transformasse toda a sociedade para melhor. Como sempre dependeu dos poderes de cada governante, os artistas acadêmicos acabavam sendo envolvidos por compromissos políticos e sociais. Graças a essa organização que funcionava muito bem, muito do que existe hoje como referência de museus e galerias de arte, nasceram da vontade acadêmica de preservar a cultura e deixa-la para todas as gerações futuras.

WILLIAM BOUGUEREAU - O nascimento de Vênus
Óleo sobre tela - 300 x 217 - 1879

WILLIAM BOUGUEREAU - Um vento natural- Óleo sobre tela - 1881

Para ser um artista acadêmico, no rigor da palavra, o caminho era bastante árduo. Havia todo um aprendizado sistemático e graduado, ministrado por um mestre competente, que repassava os ensinamentos de mestres do passado. Além de todo o aparato teórico, obtido em anos de profundo estudo, que abrangiam as mais variadas áreas de ensino (História, Filosofia, Mitologia, Poesia, Religião...), o artista precisava ser, acima de tudo, muito eficiente em sua profissão. A habilidade para a execução de um desenho rigoroso era indispensável, pois nele estava toda a base da obra acadêmica. Era pelo desenho preciso que se estruturava toda a composição no início da obra, como também permitia alterações seguras no decorrer dela. Tudo começava com inúmeros esboços preparatórios, onde todos os elementos da obra eram posicionados minuciosamente. O conhecimento de anatomia era exigido com rigores extremos, uma vez que toda composição acadêmica estava situada em torno da figura humana.

WILLIAM BOUGUEREAU - Uma bacante e uma cabra - Óleo sobre tela - 160,5 x 228 - 1862

WILLIAM BOUGUEREAU - O retorno da colheita - Óleo sobre tela - 241,3 x 170,1 - 1878

Bouguereau não só se muniu de todos os atributos citados anteriormente, como conseguiu supera-los em todos os quesitos. Impressionava, acima de tudo, a suavidade e a textura que conseguia na reprodução da pele humana e como representava impecavelmente as formas e gestos obtidos nas mãos, pés e faces de seus personagens. O perfeccionismo não era uma exigência trilhada por Bouguereau, mas, uma normalidade. Cada centímetro de sua tela era minuciosamente trabalhado, mantendo um acabamento de altíssima qualidade. As marcas de pincéis eram praticamente invisíveis, fundidas em laboriosos esfumatos. Ele parecia sempre insatisfeito com os resultados, retocando as composições, mesmo depois de dá-las por terminadas. A consequência disso tudo era a excelência dominada com anos e anos de execução. Bouguereau era a referência maior em todos os lugares que passava e conquistava todos os prêmios que almejava e concorria. O domínio profundo das normas acadêmicas lhe trouxe cargos importantes, tanto nas escolas, como junto ao poder que as financiava. Começava assim, um perigoso caminho na vida do artista.

WILLIAM BOUGUEREAU
Zenóbia encontrada pelos pastores nas margens do Araxes
Óleo sobre tela - 148 x 118 - 1850

WILLIAM BOUGUEREAU - Dante e Virgílio no inferno
Óleo sobre tela - 280,5 x 225,3 - 1850

Paris era, inevitavelmente, a meca cultural do mundo naquele momento, e o Salão, a grande vitrine que testemunhava esse domínio cultural. O Salão era um evento competitivo, que tinha um caráter artístico, mas também comercial. Era ali que os artistas consagrados se exibiam e também era ali que os iniciantes tinham a oportunidade de se projetar para o mundo das artes. O acesso ao Salão não era nada fácil, pois os acadêmicos eram os organizadores do evento, e utilizavam dele como uma ferramenta poderosa no controle do que deveria ou não ser produzido pelos artistas naquele momento. Já que a meta do Academicismo sempre foi implantar um sistema que prezasse pelo culto às referências clássicas, serviam para ingressar ao salão somente as obras que se encaixassem nas temáticas históricas, religiosas ou mitológicas. Essa espécie de controle da liberdade de expressão, com o passar dos anos, já era visto com desconfiança por muitos artistas. O próprio público já começava a ficar entediado em ver corredores e mais corredores de obras com as mesmas temáticas. Mas, nem mesmo assim os organizadores do Salão cediam. Bouguereau, como um dos líderes do movimento acadêmico naquele momento, e presidente da Sociedade dos Artistas Franceses, a mesma que organizava e ditava as normas do salão, começou a instituir severas restrições a obras que não se encaixassem nos propósitos da instituição e do evento, irritando ainda mais as novas propostas artísticas que desejavam um espaço para expor. A lista de trabalhos recusados na seleção para o salão enchia galpões e aumentava ainda mais a ira dos adversários àquele sistema.

WILLIAM BOUGUEREAU - Oréadas - Óleo sobre tela - 236 x 182 - 1902

WILLIAM BOUGUEREAU - A primeira manhã- Óleo sobre tela - 203 x 252 - 1888

Os tempos acenavam mudanças significativas em todas as direções. A classe média, que começava a frequentar os salões e se tornar um importante comprador de obras, e que nem sempre tinha a mesma bagagem cultural da elite dominante, para absorver a arte clássica de até então, começava a abrir os olhos para outros tipos de manifestações. Queriam ver ali, também expostas, obras do cotidiano de todos, cenas pitorescas e realistas, bem como temas exóticos, como os da Idade Média ou do Oriente. Muitos artistas, há tempos já produziam dentro dessas novas propostas, mas, esses nunca conseguiam oportunidade para expor no grande salão. O próprio Bouguereau, à partir da década de 1860, começou a livrar da produção histórica e religiosa, com temática rigorosamente acadêmica, que sempre foi a marca de sua reputação. Como o gosto dos clientes mudava, ele adaptava facilmente a eles. Produzindo séries intermináveis de nus, cada vez mais sensuais e provocantes, bem como anjos e cupidos entregues à mais deleitosa perdição. Nesse momento, seus opositores o atacavam ainda mais ferozmente, afirmando que ele prostituía sua arte e seus propósitos, em nome de dinheiro e status. Ele defendia, afirmando que apesar de mesmo produzindo algo popular, ainda o fazia com classe e rigores técnicos, e não tinha culpa, se os outros não conseguiam fazer o mesmo.

  
Esquerda: WILLIAM BOUGUEREAU - Momentos do dia, Aurora - Óleo sobre tela - 124,4 x 63,7 - 1881
Centro: WILLIAM BOUGUEREAU - Momentos do dia, Crepúsculo - Óleo sobre tela - 1882
Direita: WILLIAM BOUGUEREAU - Momentos do dia, Noite - Óleo sobre tela - 208,2 x 107,3 - 1883

Se havia motivos que irritassem os adversários de Bouguereau, ele parecia já ter provocado todos. Suas obras atingiam valores astronômicos. Corria até uma piada dizendo que ele perdia cinco francos, toda vez que largava seus pincéis para urinar. Esse tipo de extravagância só nutria a inveja e a ira dos que iam em desencontro aos seus propósitos. Muitos artistas, que praticamente viviam em petição de miséria, não se conformavam em ver as oportunidades restritas nas mãos de uma minoria elitizada de artistas. Os modernistas, principalmente os impressionistas, que há anos buscavam algum espaço, já caíam no gosto da nova classe consumista, pois começavam a expor e conquistar um público considerável nos salões alternativos, já que eram sistematicamente recusados nos salões principais. Foram justamente eles, os mais implacáveis contra Bouguereau e seus seguidores. Degas, um dos ícones do movimento impressionista, chegou a criar o termo “bougueresco”, como um sinônimo pejorativo a tudo aquilo que lembrava o que era produzido por Bouguereau e sua turma. O Academicismo já era visto por muitos como artificialidade, um sistema que se embotava por falta de originalidade e que minava a criatividade dos que queriam produzir algo inusitado.

WILLIAM BOUGUEREAU - Na fonte
Óleo sobre tela - 142 x 86,5 - 1897

WILLIAM BOUGUEREAU - Uma infância idílica - Óleo sobre tela - 102 x 130 - 1900

Os modernistas atraíam vários artistas para sua briga, principalmente porque defendiam um movimento sem amarras, onde a liberdade de expressão era ilimitada. Com os modernistas dominando todos os olhares e atraindo a atenção de marchands, colecionadores e novos espaços de exposição, o período acadêmico chegou ao fim. Pelo menos, a tirania imposta pelos líderes do movimento foi cedendo paulatinamente ao gosto da população e principalmente dos artistas. As obras acadêmicas já não vendiam mais e literalmente desapareceram do mercado. Os seus artistas foram caindo no esquecimento e se tornou difícil ouvir qualquer referência sobre eles até mesmo nas escolas de arte, a não ser como um exemplo do que não fazer. Ficou evidente que a oposição contra os artistas acadêmicos, principalmente Bouguereau, se deu pelo fato de, principalmente ele, ser tecnicamente bom demais no que fazia, ter produzido fortuna quando muitos mal sobreviviam do que produziam e principalmente não ter sido mais tolerante com as vanguardas que conviviam e produziam naquele período, uma vez que estava na liderança das instituições e tinha forte opinião junto aos governos. Todo sistema que se torna arrogante, terá adversários ao longo do caminho.

WILLIAM BOUGUEREAU - A família sagrada
Óleo sobre tela - 137 x 108 - 1863

WILLIAM BOUGUEREAU - Amor fraternal
Óleo sobre tela - 147 x 103,7 - 1851

Até o início do século XX, as obras de Bouguereau eram disputadas avidamente e compradas por milionários de várias regiões da Europa e Estados Unidos. Para muitos, ele era considerado o mais importante artista francês de todos os tempos. Porém, depois de 1920, devido a forte influência de críticos de arte sobre o que gostar e colecionar, e principalmente por Bouguereau ter se posicionado tão fortemente contra os impressionistas, ele foi caindo no descrédito. Durante décadas, seu nome foi esquecido e sequer mencionado nas muitas enciclopédias que foram surgindo ao longo do século XX. Muitos museus, praticamente esconderam seus quadros. Por cerca de sete décadas, Bouguereau se tornou praticamente inexistente, até que, em 1974, uma primeira exposição com obras suas, montada no Museu de Luxemburgo, causou alguma sensação. Em outras mostras montadas nos anos seguintes, alguns críticos contemporâneos ainda insistiam na tecla de que sua obra era vazia e árida, mesmo reconhecendo nele a genialidade técnica quase incomparável.

WILLIAM BOUGUEREAU - Alma Parens - Óleo sobre tela - 230,5 x 139,7 - 1883

Curiosamente, a tirania imposta pelos acadêmicos aos modernistas, quando estavam no poder, é a mesma imposta pelos contemporâneos que dominam o atual cenário. Vê-se claramente que o que está em jogo não é a eficiência ou a produção dos artistas que ainda executam trabalhos acadêmicos ou similares, nem dos muitos mestres passados que tanto contribuíram para que a arte chegasse até aqui, mas, a ameaça do controle de galerias e instituições que lucram fortunas com a venda dos artistas que estão no topo do mercado. Por isso, críticos de arte se tornaram vendedores de novidades e influenciam fortemente a opinião daqueles que não tem discernimento suficiente para escolher um trabalho para adquirir. Tanto naquela época, quanto nessa, a ganância cega os olhos para a verdadeira arte e impõe aquilo sobre o que as pessoas sequer entendem. Se naquela época, as obras acadêmicas foram criticadas por não serem acessíveis à maioria, o pior acontece nos tempos atuais. Exposições são montadas com obras que precisam de quase um formulário para poder explica-las. Não são acessíveis nem mesmo para quem está no mercado de arte.

WILLIAM BOUGUEREAU - A batalha dos Centauros e Lapiths
Óleo sobre tela - 124,5 x 174,3 - 1853

WILLIAM BOUGUEREAU - Pequenas pedintes- Óleo sobre tela - 161 x 93,5 - 1890

Lamentável é ver como um artista, com as qualidades técnicas que possuía um Bouguereau, seja relegado ao isolamento, por um puro capricho daqueles que o temiam fortemente naquele período. Em 2000, o Art Renewal Center, fundado por Fred Ross, artistas e colecionadores favoráveis às belas-artes, vem defendendo os valores anteriormente conquistados pelos trabalhos acadêmicos. A crescente demanda por obras e a grande procura por artista produtores de belas-artes é uma realidade em todo o mundo. A internet tem colaborado bastante para isso, pois, sendo uma galeria aberta e imparcial, as pessoas fazem livremente as suas escolhas. Resta esperar por um dia, onde o respeito às manifestações artísticas, de qualquer espécie, seja o ponto alto da natureza humana. Sendo a única espécie nesse planeta a produzir arte, pelo menos intencionalmente, o homem é bem melhor do que essa mesquinha luta de mercados que existe por aí. Para aqueles que produzem arte, e a fazem com a melhor das boas intenções e prazer, uma frase deixada por Bouguereau continua mais atual do que nunca:

“A cada dia entro em meu estúdio cheio de alegria; à noite, quando a escuridão me obriga a deixá-lo, mal posso esperar pelo dia seguinte. Se eu não pudesse devotar-me à minha amada pintura eu seria um pobre coitado.”

WILLIAM BOUGUEREAU - Autorretrato
Óleo sobre tela - Coleção particular 46 x 38,4 - 1886

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA

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RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Felicitações pelo aniversário (detalhe)

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Felicitações pelo aniversário
Óleo sobre tela - 81 x 65 - 1880

Tido como um dos mais bem sucedidos retratistas espanhóis de seu tempo, Raimundo de Madrazo foi um grande artista de sua geração. É facilmente entendida essa afirmação, ao se observar atentamente sua produção. Dono de um Realismo minucioso e elegante, Madrazo possuía um domínio técnico invejável, e sua paleta e fatura se constituíam com uma delicadeza e refinamento incomparáveis.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Damas na janela
Óleo sobre tela - 72,7 x 59,7 - 1875

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Saída do baile de máscaras
Óleo madeira - 49 x 80,5 - 1885

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - O toilete- Óleo sobre tela

Nascido em Roma, em 1841, Raimundo de Madrazo y Garreta já nascera em família privilegiada para as artes. O avô, o notável pintor José de Madrazo y Agudo, começou um dos legados da família, que teria sua continuação em Federico de Madrazo y Kuntz, um famoso retratista espanhol, que por sua vez se tornou pai de Raimundo de Madrazo. Na família, ainda haveria outros representantes para as artes: Ricardo Madrazo, seu irmão; e Mariano Fortuny, um cunhado que também se tornaria um importante pintor da cena espanhola do século XIX.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Garota com violão e papagaio
Óleo sobre tela - 49 x 38 - 1872

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Uma pequena princesa no jardim de Versalhes
Óleo sobre tela - 88,9 x 116,8 - 1905

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Sapatos novos
Óleo sobre tela

As primeiras lições de artes de Raimundo de Madrazo começaram em sua própria família. Ele dividia as horas de aulas, ora com o pai, ora com o avô. Até que os próprios o direcionaram para a Real Academia de Belas-Artes de São Fernando, onde teve como mestres Carlos Luís de Ribera e Carlos de Haes. Carlos Luís era um pintor de respeito entre as classes burguesas e tinha sua produção alicerçada na produção histórica e retratos. Já Carlos de Haes, tinha sua produção voltada para a execução de paisagens, que lhe trouxe grande prestígio. Os ensinamentos dos dois formaram uma boa base de aprendizagem, aliada aos ensinamentos dos parentes.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA
Arrumada para a noite
Óleo sobre tela - 93,98 x 57,15

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Uma bela tocadora de bandolim
Óleo sobre tela - 80 x 54

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - A harpista
Óleo sobre tela

Raimundo de Madrazo ainda teria novos ensinamentos na sua formação, quando mudou-se para Paris, na década de 1860, e tornou-se aluno de Leon Coignet. Coignet pode até não ter uma grande reputação como artista, mas foi o professor de mais de cem artistas de renome que passaram por Paris. Além de conquistar o respeito pelos mestres de Paris, Raimundo de Madrazo também caía no gosto de colecionadores abastados. Há várias cartas trocadas entre Raimundo e seu pai, nesse seu período em Paris. Seu pai o tratava com enorme carinho e via nele a projeção internacional que faltava para a família. Além de confidente, essas correspondências confirmam também como Federico o ajudava na escolha de questões pessoais e profissionais.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA
O Pátio de São Miguel, Catedral de Sevilha
Óleo sobre tela

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Piscina no Jardim de Alcazar
Óleo sobre madeira - 10 x 16,4 - 1868

Em setembro de 1867, Raimundo de Madrazo deixa Paris momentaneamente e retorna a Madri, para ajudar nas cerimônias de casamento de sua irmã Cecília, com o também pintor Mariano Fortuny. Os cunhados tinham uma ótima convivência e chegariam inclusive a assinar trabalhos em parceria. Como uma espécie de retiro, ele prolongaria essa sua estadia espanhola por cerca de um ano, período que frequentou regiões distintas do país, inclusive a Andaluzia. É desse período, uma série de pequenas paisagens que fez em sua passagem por Sevilha. Obras belíssimas pela espontaneidade, são consideradas caprichos de sua produção. No retorno a Paris, começaria a fase mais importante de sua carreira.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA
Travessuras da modelo
Óleo sobre tela - 95,2 x 66 - 1885

RAIMUNDO DE MARAZO Y GARRETA - Jardim do Alcazar em Sevilha - Óleo sobre painel

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA
Jardim da casa de Fortuny
Óleo sobre madeira - 40 x 28 - 1877

Ele conseguiu participar da Exposição Universal, mesmo sem haver exposto ainda em Madri, sua casa. Já nessa época, gozava de uma ótima reputação, baseada principalmente na excelente técnica que lhe traria uma vida tranquila e movimentada. Todos os atributos a ele conferidos, consequentes da excelência profissional que se tornara, lhe garantiram a primeira medalha e a nomeação oficial da Legião de Honor, em sua participação na Exposição Universal de Paris, em 1889.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - A leitura
Óleo sobre tela - 45 x 56 - Entre 1880 e 1885

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - A serenata - Óleo sobre tela

Uma agenda agitada começava na carreira de Raimundo de Madrazo. Ele era frequentemente contratado para retratar a mais alta sociedade, pintando reis, políticos, intelectuais, empresários e até mesmo outros artistas. Conhecedor dos movimentos que agitavam a Paris daquela época, Madrazo conseguia aliar um trabalho com característica realista a pinceladas soltas e espontâneas, típicas dos amigos impressionistas. Manchas e cores selecionadas previamente encantavam a todos, aliadas a um detalhamento fino e criterioso. Já não era apenas a França o reduto maior de sua clientela, ele também já conquistava mercado na Inglaterra, nos Estados Unidos e entre ricos clientes argentinos, países para onde era levado por seus clientes e passava grandes temporadas.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Namorico - Óleo sobre tela - 70,5 x 120,5

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Os mascarados
Óleo sobre tela - 101,6 x 64,8 - Entre 1875 e 1878

Raimundo de Madrazo chegou aos Estados Unidos em 1896 e fixou seu ateliê em Nova York. Pela fama que carregava em sua bagagem, logo conquistou uma vasta clientela e era um dos mais procurados retratistas da cidade, atraindo colecionados proeminentes como John Pierpont Morgan e os Vanderbilt. Logo, muitos magnatas, de diversas partes do país, vinham à procura de seus trabalhos. Andrew Peacock, vice-presidente da Carnegie Steel Company, logo se tornaria um dos clientes mais devotados. Tido como um colecionador de gosto apurado, ele mantinha uma rica coleção em sua mansão em Pittsburgh, na Pensilvania, chamada Rowanlea. Peacock encomendou sete retratos da família ao artista, e fez questão de hospedá-lo em sua residência, com todas as honrarias que pudesse oferecer, enquanto executava os trabalhos.

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA
Retrato de Isabelle McCreery
Óleo sobre tela - 266 x 174

RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA - Saindo da igreja - Óleo sobre tela

Não é arriscado dizer que Raimundo de Madrazo viveu completamente feliz e estável, num dos momentos mais conturbados da arte europeia. Ele não foi nenhum profeta da revolução artística, mas soube passar por esse período de turbulência exatamente por conciliar o que havia de controverso e de vanguarda, ao que era acadêmico e conservador. Na opinião de muitos críticos de sua época, ele foi a união perfeita entre a tradição e a modernidade. Ele sabia, como poucos, assimilar as qualidades brilhantes de seus antepassados. Mas, quando sentava em frente a seu cavalete, logo os esquecia e pintava aquilo que a intuição lhe sugeria. E o convívio com os novos tempos daquela agitada Paris sempre lhe intuíam inovações em seus trabalhos. Como poucos artistas de seu tempo, conseguiu fazer uma arte de transição, sem agredir. Acima de tudo, era extremamente elegante em tudo que fazia.

Raimundo de Madrazo faleceu em Versalhes, no ano de 1920.

RETRATADO PELO PRÓPRIO PAI: 

FEDERICO DE MADRAZO
Retrato de Raimundo de Madrazo y Garreta
Óleo sobre tela - 1857

A IMPORTÂNCIA DE UMA COLEÇÃO

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JEAN BÉRAUD - Bois de Boulogne - Óleo sobre tela - 45,7 x 58,4

JEAN BÉRAUD - Bois de Boulogne - Detalhe

A Arte deve a sua perpetuação não apenas aos artistas que a produzem, mas também aos muitos colecionadores e mecenas que a sustentaram e sustentam em todos os tempos. Muitas pessoas entendem, desde cedo, que relacionar com a arte é uma maneira saudável de relacionar com a vida, por isso iniciam a sua instigante e prazerosa aventura de adquirir e colecionar objetos de arte. Há grandes coleções que estão quase que exclusivamente restritas sob o domínio de poucos proprietários, pessoas que herdaram ou construíram um importante patrimônio em todas suas vidas. Mas, há também pequenas e importantes coleções, frutos do amor devotado e gratuito àquilo de mais belo que o ser humano pode produzir. Muitos jovens admiradores de arte, com uma aguçada visão cultural, começam cedo suas coleções e tomam por elas um gosto e um apreço incalculáveis. E não fazem isso apenas com o intuito de posse e investimento. A arte proporciona prazeres inimagináveis para aqueles que podem e tem a oportunidade de coleciona-la. Quem coleciona e guarda um objeto de arte, sabe que o está fazendo pela manutenção da história. A presente matéria trata exclusivamente de uma pequena parte da coleção de Margaret Thompson Biddle, um dos nomes mais fortes do colecionismo americano.


Margaret Thompson (esquerda) em Paris

Margaret Thompson Biddle e seu marido Tony Biddle

Margaret Thompson Biddle nasceu no estado americano de Montana, no ano de 1896, filha do milionário William Boyce Thompson. Dono de fartas minas de cobre nas vastas planícies do oeste americano, William Thompson deixou uma grande fortuna para sua filha. Educada no mais tradicional sistema e cultivando desde cedo um gosto nato por tudo que envolvia arte, Margaret Thompson Biddle logo se tornou uma colecionadora eficiente e com um olhar seletivo aguçado. Inteligente e bela, possuía um charme e bondade de coração ímpares. Ela passou grande parte de sua vida na França, e estar entre Paris e a Riviera Francesa, recebendo amigos americanos e a mais alta sociedade francesa, era a sua atividade predileta. Ela conhecia todo mundo de importância na capital francesa e convivia muito bem com artistas, escritores e políticos.

JEAN BÉRAUD - A conversa - Óleo sobre tela - 55,9 x 39,3

JEAN BÉRAUD - A dança
Óleo sobre painel - 26,6 x 15,3

JEAN BÉRAUD - Courses rue de la paix - Óleo sobre painel - 41 x 32,4

Paris atraía cada vez mais americanos, tanto no final do século XIX, quanto início do século XX. Eles lotavam hotéis, movimentavam a economia das muitas lojas e restaurantes da cidade, e se envolviam cada vez com o ritmo de vida, tão diferente das terras americanas. Juntamente com os turistas, vinham também escritores, arquitetos e artistas, ansiosos por se inscreverem em escolas renomadas da cidade-luz. Paris ensinou ao americano comum a respirar arte e se apaixonar por ela. Entre esses grupos, algumas mulheres se destacavam, conquistando seu espaço na sociedade e impondo um novo respeito à classe feminina. Margaret era uma delas. Seja em seu apartamento em Nova York, numa mansão em Paris ou mesmo na Riviera, todos os visitantes recebidos em suas propriedades se deliciavam com o grande número de obras que Margaret Thompson ia acumulando em sua vida. Muitas obras foram adquiridas com o intuito de ajudar artistas em dificuldade, chegando a manter muitos deles por longos anos. Outras, foram colhidas em visitas a velhos antiquários ou adquiridas de famílias que se desfaziam de obras herdadas. Por todos os espaços, obras de Corot, Gauguin, Renoir, Monet, Galien-Laloue, Lépine e tantos outros. E, em especial, um grupo de várias obras do artista Jean Béraud, que são o foco dessa matéria.

JEAN BÉRAUD - Cena ao sul dos Champs Élysées - Óleo sobre tela - 36,8 x 53,3
Antes e depois de restaurada

JEAN BÉRAUD - Ao lango do Sena - Óleo sobre painel - 37,8 x 54,6

JEAN BÉRAUD - Entrada do Pequeno e Grande Palácio, Avenida Alexandre III
Óleo sobre painel - 37,8 x 54,9

Provavelmente foi o amor incondicional por Paris, que despertara em Margaret o gosto por obras que retratassem a cidade e a sua vida. Ninguém fazia isso melhor naqueles tempos que Jean Béraud. E ninguém colecionava mais as suas obras do que ela. As obras de Béraud acabaram por se tornar quase que um guia da cidade. Ele parecia saber capturar todo o sentimento que tinha tanto o francês como o americano pela capital francesa. Em palavras de um cronista da Sotheby’s, “as composições de Béraud são duradouras visões de momentos fugazes de prazeres urbanos”. Béraud era extremamente rigoroso. Ele viajava pela cidade em uma espécie de estúdio móvel, capturando os eventos e as cenas mais corriqueiras que aconteciam em todos os cantos. O próprio Béraud afirmou certa vez: “Quando você pintar cenas da vida cotidiana, tem que coloca-las em seu contexto e dar seu ambiente autêntico”. Esse sentimentalismo colocado na obra que despertou em Margaret Thompson o forte interesse em coleciona-la. As obras de Béraud, presentes na coleção de Margaret Thompson, se tornaram uma espécie de janelas para o passado, que nutriram nela, até morrer subitamente, em 1956, um amor intemporal pela cidade de Paris.

 
Esquerda: JEAN BÉRAUD - Um gentlemen - Óleo sobre painel - 27,9 x 14,6 - 1873
Direita: JEAN BÉRAUD - Uma serviçal - Óleo sobre tela - 65,7 x 40
Abaixo: JEAN BÉRAUD - Mulher contemplando uma tela - Óleo sobre painel - 8,9 x 6,7


Todas as obras de Béraud, aqui apresentadas, estavam armazenadas em um cofre, desde a morte de sua proprietária. Como não haviam sido restauradas desde então, várias delas estavam impregnadas de marcas do tempo. Fumaças de charutos, poeira, fuligens... Béraud utilizou telas e painéis de madeira para a execução das obras. Ele viveu numa época relativamente estável para os artistas e utilizava bons materiais para executar os seus trabalhos, talvez por isso, mesmo com vários anos sem manutenção, as obras ainda se encontravam em relativo bom estado. A restauração trouxe a luz cores vibrantes e tons que o tempo havia escondido, como mostram algumas cenas antes e depois da restauração. Essas obras foram a leilão pela Sotheby’s, em 18 de maio de 2016. Elas atingiram a marca de quase 5 milhões de dólares.

Antes e depois de restaurada

JEAN BÉRAUD - Les grand boulevards Cafe American - Óleo sobre painel - 36,2 x 53,3

JEAN BÉRAUD - Les grand boulevard - Detalhe

 
Esquerda: JEAN BÉRAUD - La loge - Óleo sobre painel - 45,4 x 37,5
Direita: JEAN BÉRAUD - Uma mulher descendo de uma carruagem
Óleo sobre painel - 46 x 36,8


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