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Channel: JOSÉ ROSÁRIO
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POR DENTRO DE UMA OBRA - Mariano Fortuny

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MARIANO FORTUNY - La Vicaría
Óleo sobre madeira - 60 x 93,5 - 1870 - Museu Nacional de Arte da Catalunha

Uma grande obra de arte não precisa ser necessariamente grande. Evidentemente que o impacto produzido por um trabalho de grandes dimensões é algo que não se pode desprezar, mas certos trabalhos fazem confirmar aquela velha máxima de que “os melhores perfumes estão em pequenos frascos”. Quando deixamos o Museu Nacional de Arte da Catalunha, em Barcelona, é esta a impressão que nos marca mais forte: há o impacto e o deslumbramento com trabalhos de dimensões enormes, mas o que nos aprisiona mesmo não é um trabalho de grandes dimensões. La Vicaríaé a pequena grande obra que nos arrebata logo na primeira olhada. A imagem que guardamos dela nos acompanhará sempre.


É, sem dúvida, a obra-prima da carreira do artista espanhol Mariano Fortuny, e um dos mais importantes trabalhos europeus do século XIX. Uma verdadeira preciosidade do Realismo de todos os tempos.


Muitos fatores tornam uma obra algo inestimável, referência ou simplesmente adorada. Não só a beleza plástica, a precisão da técnica ou o histórico do artista. No caso de La Vicaría, há todos esses indicadores e ainda o fato de o artista ter condensado em seu trabalho todos os símbolos de seu país. Nessa cena, que representa a assinatura de um contrato de casamento, há espaço para todas as classes sociais mais comuns em sua época. A burguesia, tão bem representada na suntuosidade das indumentárias; o grupo familiar e os amigos, mais próximos do casal; manola e toureiro, representando as classes mais baixas do povo, mas também integrados numa mesma confraternização. Em todos os personagens, há uma acurada representação de detalhes para cada tipo de traje, onde é possível visualizar texturas de tecidos, brilhos e movimentos. Ele capta as expressões com tanta naturalidade, que cada personagem ali contido parece uma figura viva.


Conta-se que a origem do quadro se deu quando, no dia de seu próprio casamento, Mariano Fortuny havia visitado a sacristia da Igreja de San Sebastian, em Madri, e se encantou pelo lugar. À partir daí, começou a fazer vários estudos que acabaram levando à composição dessa obra. Diversos amigos foram modelos que ele acabou utilizando para a composição final, como por exemplo o toureiro, cuja pose foi extraída de outro artista espanhol, Eduardo Zamacois y Zabala.


Fortuny era fascinado pela pintura de Goya e essa composição é uma declarada admiração por ele. Vários elementos remetem à influência de seu admirado conterrâneo. Impossível ficar indiferente à qualidade pictórica da grade, do lustre pendurado do teto, da biblioteca ao fundo e do braseiro, tão bem localizado como equilíbrio de um espaço vazio importante no primeiro plano. Todo o trabalho faz jus ao ditado de que “tamanho nem sempre é documento”. O quadro, pintado em óleo sobre madeira, mede não mais que 60 x 93,5 cm. O trabalho foi iniciado em 1863, quando o artista tinha 25 anos de idade, e concluído em 1870.




Essa pintura foi adquirida do artista por 25.000 francos pelo marchand Goupil, que logo a vendeu por 70.000 francos.

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